O coronel
reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe de órgão de repressão política
durante a ditadura militar, afirmou nesta sexta-feira (10) em depoimento à
Comissão Nacional da Verdade (CNV) que a presidente Dilma Rousseff participou
de "organizações terroristas" com intenção de implantar o comunismo
no Brasil. Para Ustra, se os militares não tivessem lutado, o Brasil estaria
sob uma "ditadura do proletariado".
Ao ser
consultada pelo G1, a assessoria de imprensa da Presidência da
República informou que ainda não tinha conhecimento das declarações de Ustra.
De 29 de
setembro de 1970 a 23 de janeiro de 1974, Ustra foi chefe do Destacamento de
Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), do
II Exército, órgão de repressão política durante o regime militar.
Ele obteve na Justiça autorização para ficar
calado durante o depoimento para o qual foi convocado pela Comissão Nacional da
Verdade. Mas mesmo assim resolveu se manifestar. Ao chegar, pediu para fazer
uma declaração inicial e depois respondeu a algumas perguntas.
"Todas as organizações terroristas, todas elas e
mais de 40 eram elas, em todos os seus estatutos, seus programas está lá
escrito claramente que o objetivo final era a implantação de uma ditadura do
proletariado, do comunismo. O objetivo intermediário era a luta contra os
militares, derrubar os militares e implantar o comunismo. Isso consta de todas
as organizações”, afirmou.
Ustra se referiu à presidente Dilma Rousseff ao afirmar que
não estaria falando à Comissão da Verdade se um regime comunista tivesse se
estabelecido no Brasil.
"Inclusive nas quatro organizações terroristas
que nossa atual presidenta da República, hoje está lá na Presidência da
República, ela pertenceu a quatro organizações terroristas que tinham isso, de
implantar o comunismo no Brasil. Então estávamos conscientes de que estávamos
lutando para preservar a democracia e estávamos lutando contra o comunismo.
[...] Se não fosse a nossa luta, se não tivéssemos lutado, hoje eu não estaria
aqui porque eu já teria ido para o ´paredon´. Hoje não existiria democracia
nesse país. O senhores estariam em um regime comunista tipo de Fidel Castro
[ex-presidente de Cuba]”, completou Ustra.
Nos anos 1960, a presidente Dilma Rousseff
integrou as organizações clandestinas Política Operária (Polop), Comando de
Libertação Nacional (Colina) e Vanguarda Armada Revolucionária Palmares
(VAR-Palmares), dedicadas a combater a ditadura militar. Condenada por
"subversão", ela passou três anos presa no presídio Tiradentes, em
São Paulo (entre 1970 e 1972). No final dos anos 1970, no Rio Grande do Sul,
ajudou a fundar o PDT, de Leonel Brizola. Em 1990, filiou-se ao PT.
Instrumentos de tortura
Indagado
sobre o que eram os instrumentos de tortura pau de arara e cadeira do dragão e
com que frequência eram utilizados contra os presos, Ustra respondeu: "Está
tudo escrito no meu livro, não vou responder”.
"A
titulo de cooperação, entreguei à Comissão da Verdade um livro com mais de 600
páginas onde detalho tudo, como era feitas as prisões, os inquéritos, tudo o
que aconteceu. O meu depoimento que prestei está ali. Agi com consciência, agi
com tranquilidade, nunca ocultei cadáver, nunca cometi assassinatos, sempre agi
dentro da lei e da ordem. Nunca fui um assassino, graças a Deus nunca
fui", disse.
Durante o depoimento, o conselheiro Claudio
Fontelles apresentou documentos que apontam 50 mortes no DOI-Codi durante o
período em que o órgão foi chefiado por Ustra. O coronel disse que não houve
mortes na sede do órgão, mas "em combate".
"Eu
não vou me entregar. Eu lutei, lutei, lutei. Tudo o que eu tenho que declarar
eu já disse, está no livro. Neste momento, me asseguro o direito de me manter
calado reforçando a decisão do juiz da 12ª Vara de Justiça", disse.
Exército
O coronel reformado disse que fazia parte de uma "cadeia
de comando" e que cumpria ordens.
"Eu era
um agente do Estado, comandante de uma unidade militar dentro da cadeia de
comando. Durante meu comando, nunca fui punido, nunca fui repreendido, recebi
os melhores elogios da minha vida militar”, afirmou ao fazer a declaração
inicial. Ustra disse que não era ele quem deveria estar respondendo
pelas acusações, mas sim o Exército. "Quem tem que estar aqui é o Exercito
Brasileiro, que assumiu por ordem do Presidente da República, a ordem de
combater o terrorismo e sobre os quais eu cumpri todas as ordens, ordens
legais”, declarou.
Após o
fim da audiência, em entrevista à imprensa, Fonteles rebateu a declaração de
Ustra. Segundo o conselheiro, não se pode cumprir ordens ilegais. "Está no
nosso direito penal que só se desculpa uma pessoa quando a ordem que ela recebe
e cumpre não é manifestamente ilegal. Ordem de torturar, de matar, de fazer
desaparecer, isso é manifestamente ilegal”, afirmou.
Para
Fonteles, Exército, Marinha e Aeronáutica "são instituições fundamentais para a
democracia” e não devem ser julgadas. "Esse é o grande equívoco, não está em
julgamento nem nunca deverá estar as instituições militares”, disse, "maus
agentes públicos é que denegriram o nome dessas instituições”.
Ex-agente
também depõe Antes de Ustra, o ex-servidor do DOI-Codi de São Paulo
Marival Chaves Dias do Canto afirmou em depoimento à CNV, que, durante a gestão
do coronel reformado, cadáveres de militantes mortos em centros clandestinos de
tortura eram exibidos como "troféus" a agentes do órgão. Fonte: Camaçari Notícias |