Nos pastos, pouca comida, o capim já secou. O gado está morrendo de
fome. O jeito é carregar a palha do milho que o sol não deixou colher. É
assim que o pecuarista João Farias, de 94 anos, tenta salvar os
bezerros. "Se o gado enfraquecer e começar a cair, tá morto.", diz. Na
região de Irecê, a que mais produz feijão no nordeste, as perdas na
lavoura passam de 80%. Há escassez de água até no subsolo. Poços
artesianos secaram. Os que ainda funcionam já dão sinais de que também
estão se esgotando. Para muitas comunidades do sertão da Bahia, o
caminhão pipa é a única fonte. E quem recebe a água que ele traz tem a
obrigação de dividir. Na barragem de Mirorós uma reserva acumula 170
milhões de metros cúbicos de água. O lago se espalhava por quinze
quilômetros. Encolheu tanto que não passa de três quilômetros.
São
14 cidades atendidas pela barragem. Na maioria dos povoados da área,
água, só dois dias da semana. O canal que abaste a produção irrigada
logo vai secar e o fornecimento para os 220 lotes do projeto já foi
cortado. Os produtores colhem os últimos cachos das bananeiras que foram
plantadas no ano passado. Os plantios mais novos não vão produzir. Dos
417 municípios da Bahia, 186 já decretaram situação de emergência. São
mais de 2 milhões de baianos sofrendo com a falta de chuva. |