Casado há 13 anos e com um filho, Ricardo* assume que quer um amor
extraconjugal. Mara* conta que foi atraída pela "clareza de propósito".
Celso* diz que não culpa a esposa e que entrou só por curiosidade, mas
quer "sexo do bom". Já Carla* relata que estava insatisfeita com o sexo
caseiro.
Apesar dos motivos diferentes, todos eles têm em comum pelo menos dois
aspectos: são casados e integram a lista dos mais de 59 mil baianos que
se inscreveram no Ashley Madison, site de relacionamento para casados
arranjarem amantes. Em Salvador, há cerca de 31 mil inscrições.
Na comparação entre os estados do Nordeste, a Bahia ocupa a quarta
posição. São 393 usuários a cada 100 mil habitantes. O estado perde
apenas para Rio Grande do Norte (533/100 mil), Pernambuco e Alagoas
(ambos com 433/100 mil).
"Curta um caso"
Definido como uma comunidade onde pessoas casadas se cadastram para
procurar amantes, o site propõe conectar usuários com a mesma
"modalidade de pensamento". Ter um caso sigiloso sem se divorciar. O
raciocínio é "simples": como os usuários são casados, não vão querer
terminar os relacionamentos e não sofrerão ameaças.
"No lugar da secretária ou cunhada, que podem te chantagear no futuro,
traia com a casada. Ela tem o mesmo a perder que você", alerta o
diretor do site no Brasil, Eduardo Borges.
Um servidor público de 26 anos admite que não se separaria. "Usei o
site porque quero um bom sexo. Minha esposa anda muito fria e eu louco
de tesão", afirma.
"É a história mais comum. Ao se casar, sua vida começa a mudar de
várias maneiras. Meu marido não é perfeito, mas tem caráter", justifica
uma usuária de 38 anos.
Perfis
O diretor ressalta que, a cada 10 pessoas que se inscrevem, três não
mantêm o perfil. "A base ativa é de 68%". A média é de 65% de homens e
35% de mulheres. O perfil é de usuários das classes A e B (homens e
mulheres) e da classe C (apenas mulheres).
O site é gratuito apenas para mulheres. Os homens têm que comprar
créditos. Os pacotes variam de R$ 49 a R$ 400. Um usuário de 38 anos
relata que conheceu uma mulher casada e que a traição ajudou no
casamento dele.
"Queríamos apenas diversão e um sexo superespecial sem constrangimentos
e exigências. Tudo muito 'light', sem frescura. Não estou mais
estressado", conta. Um administrador reclama apenas do gasto. "O
problema é que consome o dinheiro rapidinho".
Para o diretor, o site é uma forma mais profissional de trair. "A
demanda por esse tipo de serviço sempre existiu e vai continuar
existindo, de Bill Clinton a pessoas no Afeganistão que podem ser
condenadas à morte".
No site, 91% dos homens se dizem casados e 67% das mulheres, casadas. O
pico de acesso é a segunda-feira, no horário do almoço. É considerado o
"dia de traição". Dias após datas festivas também. Depois do
Réveillon, aumenta 400%. "O brasileiro gosta muito de interagir pela
internet. Aqui é a terra do carnaval e da sacanagem. E a Bahia, assim
como o caso carioca, tem muito disso", opina.
*nomes fictícios |