Um esquadrão branco, infernal, que tomou a América de assalto. Com um
ataque genial, imprevisível, artilheiro. Muitas vezes, o Santos foi
descrito assim nos anos 60, quando Pelé e seus companheiros
chacoalharam a América. O mesmo texto agora, 48 anos depois, serve para
o time de Neymar, Ganso, Elano, Léo, Dracena, Arouca, Durval, Rafael.
Sim, senhoras e senhoras: o Santos é, novamente, campeão da Taça
Libertadores. Tricampeão.
A noite ficará guardada na memória de cada santista. A vitória, por 2 a
1, num Pacaembu apinhado, branco, cheio de santistas com lágrimas nos
olhos, ainda teve Pelé vibrando como esse estivesse em campo. Do seu
camarote, o rei de todos os tempos socava o ar como se um dos gols
tivesse sido marcado por ele.
O Peixe e sua nova geração de ouro caminha a passos largos para ser
campeão de tudo em 2011. No início do ano, manteve a supremacia em São
Paulo. Agora, tornou-se rei da América. O terceiro passo poderá ser
dado em dezembro, quando a equipe de Muricy Ramalho terá o Mundial de
Clubes da Fifa pela frente. Será a chance de poder ver um dos duelos
mais aguardados do futebol mundial: Neymar x Lionel Messi.Primeiro tempo de domínio santista, mas faltou calibrar o pé
Buscando acabar logo com o nervosismo e a angústia das arquibancadas, o
Santos entrou em campo querendo um gol rápido. Os comandados de Muricy
Ramalho acreditavam que, na pressão, o Peñarol se abriria. Puro engano.
Apesar de boas investidas e jogadas inspiradas de Ganso, que andou
acertou ótimos passes, faltou o chute certo. Os números dos primeiros
45 minutos ratificaram o domínio santista. O Peixe teve 67% de posse de
bola, contra 33% do seu rival. Foram oito arremates ao gol uruguaio,
contra apenas um dos carboneros.
O
primeiro lance de perigo veio em chute de fora da área de Elano, que
exigiu grande defesa de Sosa. Neymar também teve chance, após passe
precioso de Ganso, mas furou. O astro santista esteve sempre cercado
por três jogadores. Gingava de um lado para o outro sem conseguir abrir
o espaço. À medida que o tempo passava e o gol não saía, o Pacaembu ia
murmurando, apreensivo. Léo também teve uma oportunidade ao invadir a
área, com o goleiro batido, e errar o alvo. Durval, duas vezes de
cabeça, também ameaçou. Sosa ainda brilhou em cobrança de falta de
Elano da entrada da área.
O Peñarol, limitado tecnicamente, se resumia a bloquear as investidas
do adversário. Segurava o Santos, tentava encaixar um contra-ataque,
que não veio em toda a primeira etapa. Assim, amornou o jogo. O Peixe
murchou, perdeu o ritmo e passou a errar alguns passes, Arouca,
principalmente.
Mas quem disse que seria fácil? É final de Taça Libertadores.
Neymar marca no início do segundo tempo e leva o Pacaembu ao delírio
E aí vem Arouca, em desabalada carreira. Uma arrancada mágica, uma
tabela esperta com Ganso, que passa para Neymar, que, enfim, soltava o
grito preso na garganta do torcedor nas arquibancadas. Apenas dois
minutos de jogo. Neymar, histórico. Um gol que vai ser lembrado para
sempre pelos santistas. O gol que abriu caminho para o tricampeonato.
Em seu camarote no Pacaembu, Pelé vibrava, reverenciando seu sucessor.
Em campo, o craque alvinegro chupava o dedo, homenageando Mateus, que
chega em novembro. O filho do ídolo santista vai nascer campeão
continental. Pé quente!
O jogo continuou. Claro. Faltavam ainda longos minutos. Nas arquibancas
se abraçavam e choravam. Não dava para fazer os ponteiros correrem mais
rápido? Não dava. Então, o Peixe tratava de dar as cartas em campo. A
diferença técnica entre os times era gritante. O Santos, agora, tinha
espaços para matar o jogo. O Peñarol tinha dificuldades para sair
jogando. Não parecia possível que o título escaparia. Absolutamente.
O Santos continuava em cima, muito melhor, trocando passes, colocando
os uruguaios na roda. Nas arquibancas, locura total. Então, Danilo
arrancou pela direita, deixou o marcador para trás, cortou para dentro
e entrou para a história. Pé esquerdo, canto direito do goleiro. Nova
explosão no Pacaembu. Choro, abraços. O título estava mais próximo.
- Agora, ninguém tira mais – berrou Léo num microfone à beira do campo.
Mas como nada com o Santos é fácil. O Peñarol mostrou suas garras. Numa
escapada pela direita, a bola cruzada, desvia em Durval, que tentou
rebater e entra. Seria possível? Como em 2005, quando defendia o
Atlético-PR, na final da Libertadores contra o São Paulo, o Rei do
Sertão marcara um contra.
Foi apenas um susto passageiro. Logo o Peixe retomou o dominio e teve
até chances para marcar mais gols. Não precisou. No final, uma cena que
não precisava ocorrer: jogadores das duas equipes trocaram agressões em
campo, diante de uma Polícia Militar que pouco fez para conter os
brigões. Nada, no entanto, que acabasse com o brilho da conquista do
Peixe.
Parabéns, Santos e santistas. A América, de novo, é de vocês.
SANTOS 2 X 1 PEÑAROL
Rafael; Danilo, Edu Dracena, Durval e Léo (Alex Sandro); Adriano,
Arouca, Elano e Paulo Henrique Ganso (Pará); Neymar e Zé Eduardo. |
Sosa; González (Albín), Valdéz, Guillermo Rodríguez e Darío Rodríguez;
Corujo, Aguiar, Freitas e Mier (Urretaviscaya); Martinuccio e Olivera. |
Técnico: Muricy Ramalho |
Técnico: Diego Aguirre |
Gols:Neymar, a 1min e Danilo, aos 23min e Durval (contra), aos 34min do 2º tempo |
Cartões amarelos: Neymar e Zé Eduardo (Santos); González e Corujo (Peñarol) |
Renda e Público: R$ 4.266.670,00 / 37.894 pagantes |
Data: 22/06/11. Local: Pacaembu, em São Paulo. Árbitro: Sergio Pezzotta (ARG). Auxiliares: Ricardo Casas (ARG) e Hernán Maidana (ARG). | |