Cerca de 100 ônibus são assaltados por mês em Salvador - mais de 3 ao
dia. De acordo com boletins diários divulgados pela Secretaria da
Segurança Pública (SSP) entre janeiro deste ano e a última quinta-feira,
11 de agosto, 684 assaltos foram registrados pela polícia.E os
registros mostram que a violência tem aumentado ao longo do ano. Se em
fevereiro a polícia registrou 60 assaltos em coletivos em seu boletim
diário, em julho foram 124 - mais do que o dobro. Nos balanços mensais,
também divulgados no site da SSP, há ainda mais roubos: 653 de janeiro a
junho. Contudo, para o titular da Delegacia de Repressão a
Furtos e Roubos, responsável pelo Grupo Especial de Repressão a Roubos
em Coletivos (Gerrc), delegado Nilton Tormes, a realidade é mais dura.
"Acredito que há uma subnotificação. Algumas pessoas têm compromissos e
não vêm à delegacia”, argumentou. A média dos valores roubados é de R$
96,20. O maior roubo foi de R$ 873.Linhas De acordo
com os boletins da SSP, as linhas mais perigosas são as que trafegam por
São Caetano, pela BR-324, Avenida Paralela, Itapuã, Rio Vermelho,
Iguatemi e Pituba. Até a última quinta-feira, 61 assaltos em coletivos
foram realizados em São Caetano. O bairro sofre por haver criminosos
atuando na área e devido à geografia. "As quebradas de lá têm muitos
becos e escadarias”, explicou.Em segundo e terceiro lugares
estão duas grandes vias de velocidade. Na BR-324 foram registrados 48
ocorrências. Na Paralela, 44. A preferência é devido à facilidade de
fuga. As ações dos bandidos duram poucos minutos - o tempo do ônibus
trafegar entre dois pontos. Os ladrões usam outro método nestes locais.
Como há muito matagal em alguns pontos, eles abrem trilhas para
escaparem rapidamente.Outro motivo é porque pelas duas vias passam ônibus intermunicipais. "Os
criminosos sabem que os passageiros transportam mais valores por
estarem viajando”. Nas grandes avenidas, o perigo cresce a partir das
22h.As áreas nobres da Pituba e Rio Vermelho estão entre as
preferências dos assaltantes porque os dois bairros concentram pessoas
de maior poder aquisitivo. Nestes locais, o horário preferido é entre
18h e 20h. "Tem muito comércio e esta é a hora que os funcionários saem
do trabalho”, explicou o tenente Ângelo Matos, do grupamento Gêmeos,
especializado no combate a roubos em coletivos.A presença da
Paralela nas primeiras posições se deve também à grande quantidade de
linhas. Segundo a Transalvador, a cidade conta com 505 linhas, das quais
298 passam pela Paralela. Pela via trafegam 250 ônibus por hora.Apesar
de ser o bairro com maior número de registros, entre os três locais de
maior incidência, São Caetano é por onde passa o menor número de linhas -
93. Na Pituba são 180. No Rio Vermelho, 169. E na BR-324 são 45.‘Quer
morrer?’ Relatos de assaltos existem aos montes. Momentos de terror,
como os que foram vividos pelo cobrador de ônibus da empresa BTU,
Adenilson Pereira dos Santos, vítima dos bandidos quatro vezes. "Ainda
tentei enfrentar achando que não estavam armados, mas um deles me
perguntou se eu queria morrer e me mostrou a pistola”, disse Adenilson,
que roda na linha Pirajá/Mata Escura. Depois de recolherem todo o
dinheiro, os bandidos ainda agrediram o motorista.
Há 20 anos trabalhando como condutor, Osvaldino dos
Santos Carvalho, que hoje roda na linha Estação Pirajá/Barra 3, foi um
dos alvos de bandidos em Castelo Branco. "Três homens pararam na frente
do ônibus e pediram para eu descer. Um deles ficou com um 38 apontado
para minha cabeça”. O diretor de comunicação do Sindicato dos
Rodoviários do Estado da Bahia, Francisco Costa, afirmou que o medo é
coletivo. "A categoria não tem segurança e ainda tem os valores roubados
descontados no salário”, denuncia.
Ônibus vazios à noite são alvos Se à noite
todos os gatos são pardos, na escuridão os ladrões de ônibus são mais
ariscos. Eles preferem atacar à noite ônibus com menor número de
passageiros. Além de ser mais fácil fugir na escuridão, há menos gente
na rua.
Os veículos mais vazios são mais interessantes para
evitar que os passageiros tentem alguma reação. Os ladrões não costumam
assaltar nas áreas onde vivem nem formam quadrilhas fixas. Muitos grupos
se desfazem após o crime. A ação é rápida e acontece entre dois pontos.
Para não atrair suspeitas, alguns usam uniformes escolares. Os
passageiros não devem reagir.
Segundo Tormes, os bandidos quase sempre estão
armados e, pelo fato de muitos serem iniciantes no mundo do crime,
costumam usar drogas para adquirir coragem para a ação.
- 100 ônibus são assaltados todos os meses em Salvador. A média em 2011 é de mais de três por dia. Em julho, foram 124 - 684 assaltos em ônibus foram registrados entre janeiro desse ano e a última quinta-feira. A média roubada é R$ 96,20
Traficantes pagam assaltantes Parte das
quadrilhas de assaltantes de ônibus é recrutada por traficantes. Segundo
o responsável pelo Grupo Especial de Repressão a Roubos em Coletivos
(Gerrc), delegado Nilton Tormes, alguns líderes do tráfico chegam a
pagar salários para os bandidos. "Eles recebem armas e entregam o
produto do roubo ao traficante. Mas não é um bom negócio, porque no
final do mês eles recebem um valor fixo”, afirmou.
Contudo, as
quadrilhas fixas são exceções. Tormes citou um grupo formado por 20
pessoas de Tancredo Neves que roubava ônibus na Paralela - oito
integrantes estão presos. Na Pituba, o tenente Ângelo Matos, do
grupamento Gêmeos, afirmou que existe uma quadrilha do Vale das
Pedrinhas formada por três menores de 12 e 14 anos - a chefe é uma
adolescente de 16. "É a menina que empunha a arma e rende os
passageiros”, afirmou.
A presença de mulheres e menores cresceu
nos últimos anos. Os adolescentes são recrutados por traficantes porque
eles não ficam detidos. "As mulheres entram para o crime na maioria dos
casos por ser mulheres dos assaltantes. É um vínculo afetivo”, afirmou
Tormes. Neste caso, elas costumam recolher os pertences dos passageiros.
O
delegado disse que a quantidade de crimes aumenta nas vésperas de
feriados e festas populares, como Carnaval e São João. "Os bandidos
também querem consumir, comprar roupa nova e curtir a festa. Muitos
alugam armas e fazem até três assaltos em uma semana”.
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