No edifício Cerejeiras, onde morava a estudante
Lindiane de Souza Sá Teles, 27 anos, que morreu de meningite tipo C no
último domingo (24), há outro foco da doença: caramujos. Os moluscos são
encontrados na área social e jardim do prédio que abriga 40 pessoas.
"Eles são uma praga. Há muitos por aqui”, relata a dona de casa Jamile
Oliveira. "Às vezes joga sal neles para tentar matar, mas eles voltam”,
completa Maria da Conceição.
Segundo o infectologista Antônio Bandeira, os
caramujos transmitem uma forma diferente da doença e provavelmente não
foram responsáveis pela morte da jovem. "Se for confirmado que ela
morreu por causa da meningite tipo C, não foi contaminada por caramujos.
Eles podem transmitir a meningite parasitória, que é bastante letal”.
O médico ressalta que os ratos são os hospedeiros
das larvas que transmitem esse tipo de meningite, mas como os caramujos
comem fezes de ratos, eles passam a ser hospedeiros temporários. "Quando
alguém entra em contato pode ser contaminado. Pegam nele e passam a mão
na boca. Crianças são alvos fáceis”, afirma.
"Vinte gramas desse caramujo podem ter cerca de mil
larvas transmissoras. Há um risco alto de contaminação nesse lugar”.
Para o infectologista Claudísson Bastos, não há motivos para que os
moradores entrem em pânico. ”É importante que a Vigilância Sanitária
veja se estes caramujos estão infectados”. A coordenadora de vigilância
epidemiológica Cristiana Cardoso diz que o assunto será investigado.
Sesab duvida que jovem tenha se vacinado Ao
sentir dor de garganta e o corpo dolorido pela febre no sábado pela
manhã, Lindiane achou que tratava-se de uma simples gripe. "Quando ela
começou a sentir-se mal estávamos panfletando para ganhar um dinheiro
extra. Mas, no domingo, as dores continuaram e eu insisti muito para
levá-la a um hospital porque podia ser meningite.Mas ela não me
escutou”, relata a cabeleireira e amiga de Lindiane, Cristiane dos
Santos.
A jovem teria um motivo para jamais suspeitar da
doença. Segundo amigos, em fevereiro, ela foi a um posto de saúde na
Estrada das Barreiras, fim de linha do bairro Tancredo Neves e
vacinou-se contra a meningite C.
"Foi na época da campanha para vacinação. Usamos um
cartão com a data de nascimento dela adulterada, já que a vacina era
para pessoas com até 21 anos. Ela deveria estar imunizada. Isso não
deveria ter acontecido”, revela a dona de casa, Jamile Oliveira, 22.
Na manhã de domingo, Lindiane apesar de continuar
febril e com dor de garganta, quis se arrumar para uma festa. "Ela
passou aqui em casa e pediu para que eu pintasse a unha dela de vermelho
porque iria para um churrasco na Mata Escura. Fiz a unha dela e às 11h,
ela foi embora, ainda se sentindo mal”, contou. "Foi a última vez que a
vi”.
Lindiane só foi para casa às 17h e morreu sem
ninguém por perto. Deitou em sua cama, colocou o termômetro para
verificar a febre, dormiu e não mais acordou. Foi encontrada apenas na
segunda-feira, por seu pai, Sérgio Teles. O laudo com a causa da
morte ainda não foi divulgado pelo Instituto Médico-Legal (IML), mas há
fortes indícios que ela seja mais uma vítima de meningite C. "Pelos
sintomas e pela morte tão rápida”, diz a coordenadora de vigilância
epidemiológica do município, Cristiane Cardoso.
Falhas O médico infectologista Antônio
Bandeira aponta alguns indícios do que pode ter ocasionado a "falha” da
vacina. "Existe uma pequena probabilidade, em torno de 2%, para que o
organismo dela não tenha absorvido a vacina e produzido os anticorpos. O
mais provável é que a vacina não tenha sido armazenada em temperatura
ideal, entre 4°C e 8°C, ou que o lote estava vencido”.
Cristiane não acredita que houve problema no posto.
"O lote da vacina foi comprado pelo Ministério da Saúde e tinha
validade para o próximo ano e monitoramos constantemente as condições de
armazenamento do material”. Ela aponta a possibilidade de Lindiane não
ter sido vacinada. "Estamos investigando, mas o cartão de vacinação não
foi encontrado. Sem ele, oficialmente não existe a vacinação”. Cristiane
diz ainda que sem provas o posto de saúde não deve ser investigado.
Depressiva, Lindiane fazia uso de medicamentos
controlados como Rivotril e Fluxene, mas Antônio Bandeira afirma que os
remédios não desativam o efeito da vacina, como suspeitam os vizinhos da
jovem. "Essa medicação age no sistema nervoso e a vacina no sistema
imunológico. Não há qualquer relação entre eles”.
Imunização No Condomínio Arvoredo, em
Tancredo Neves, onde Lindiane morava, o medo tomou conta de todos os
moradores. "Tenho medo de acontecer alguma coisa comigo e eu deixar
minhas filhas sozinhas”, afirma a dona de casa Maria da Conceição, 35
anos, vizinha de Lindiane. "Minha filha está com dor de estômago, mas
estou tão apavorada que mesmo sem os sintomas, vou levá-la a um
hospital”, diz a cabeleireira Evanilde Santos, 53 anos.
Dois agentes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) estiveram no local ontem pela manhã, mas não medicaram ninguém.
"Eles iam dar a medicação, a quimioprofilaxia, mas
disseram que com o movimento da imprensa deixaram para outro dia.
Ninguém aqui foi medicado. Todo mundo aqui está sem assistência”, revela
a dona de casa Maria da Conceição.
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