O início das operações das Forças Armadas após
retomar o controle da Assembleia Legislativa, ocupada pelos policiais
grevistas desde terça da semana passada, acabou calmo, após confrontos
que deixaram cinco feridos e clima tenso, na manhã desta segunda (6).
Fuzis com balas de borracha, spray de pimenta,
bombas de efeito moral, escudos, pistolas de choque e cassetetes. As
armas do Exército contra a ocupação foram mesmo as psicológicas.
Desde cedo, 850 militares do Exército, sob o
comando da 6ª Região, 200 PMs de companhias especiais e 40 homens da
Força Nacional de Segurança isolaram a área da Assembleia. Três
helicópteros e dois tanques blindados ajudavam a transformar o Centro
Administrativo (CAB) em um cenário de guerra.
A água e a energia elétrica dos manifestantes foram
cortadas. "Todo esse isolamento faz parte da estratégia para criar
condições de que se negocie o cumprimento dos mandados de prisão”,
destacou o tenente-coronel Marcio Cunha, responsável pela Comunicação da
6ª Região. Ele se referia aos 11 mandados de prisão expedidos pela
Justiça contra os líderes da greve, entre eles Marcos Prisco, presidente
da Associação dos Praças e Bombeiros da Polícia Militar (Aspra).
A ideia é vencer no cansaço. Por isso, a expectativa
é de que hoje seja mais um dia de tensão na Assembleia. A seguir, um
resumo dos principais acontecimentos do dia.
5h30 Ainda era noite quando as tropas
começam a preparar o cerco aos 800 manifestantes que ocupam a
Assembleia. Na operação, além de dezenas de caminhonetes e caminhões,
dois tanques blindados, que controlavam as principais entradas do Centro
Administrativo. Divisórias de metais ajudam a estabelecer a área
isolada, enquanto helicópteros vigiam de cima.
7h30 Cerca de 200 policiais e
familiares que saíram do acampamento são impedidos de entrar e se
concentram do lado de fora. Uma mulher de grevista, Bárbara Soares, 39
anos, tenta invadir com uma criança de colo e é empurradapelos soldados
do Exército. "Vim salvar meu marido. Eles são uns covardes, temo pelo
pior”. A ação gera imediata reação dos familiares, que vão em cima do
soldado. Após as duas primeiras horas, a missão começa a dar tiros de
balas de borracha que atingem dois militares, um na perna e outro no
abdômen. "Não vão me intimidar. Só saio daqui no saco preto”, diz um,
atingido na barriga.
8h15 Passeiam ao lado da AL tanques de
guerra e tropa marchando com batidas do cassetete no escudo. Três
helicópteros em voos razantes exibem suas metralhadoras. Insuflados por
gritos que vêm de dentro, manifestantes tentam invadir pela frente.
Cinco tiros são disparados contra eles. Ninguém fica ferido.
8h25 Do lado de fora, o grupo já conta
com cerca de 500 pessoas e usa como tática tentar invadir de um lado
para outro, forçando o Exército a mover tropas. De dentro, os grevistas
ironizam com dança, chamando os algozes para "dançar até o sol raiar”.
8h38 O Exército identifica suposta
arma em mãos do grevista Sidenésio Barbosa da Silva, 31 anos, que estava
do lado de fora, e o cerca para rendê-lo. Os PMs, entre eles o deputado
Capitão Tadeu (PSB), entram em luta corporal contra os soldados. Na
confusão, o parlamentar, a imprensa e os manifestantes recebem gás de
pimenta na cara. Mais tiros com balas de borracha são disparados ao ar.
Sidenésio é preso, mas liberado em seguida. Foi ovacionado e incendiou:
"É guerra!”.
8h39 No momento da confusão, alguns PMs
acampados na Assembleia tentam sair para defender os colegas. A luta
corporal se aproxima da divisória que limita a área cercada pelas Forças
Armadas. Um dos policiais, não identificado, é atingido com um tiro de
bala de borracha. Mesmo ferido, ele não quer receber atendimento médico e
prefere permanecer na Assembleia.
9h O líder do movimento, Marcos
Prisco, negocia com o general Gonçalves Dias, chefe da operação militar
na Bahia, a entrada de seu sobrinho, o soldado Anderson Machado, para
passar uma mensagem ao grupo de fora. 9h36 Chega a informação de
que a sede da Aspra foi arrombada. Do lado de fora, PMs voltam a cantar
os gritos de guerra e o nome de Prisco. Por telefone, os PMs convocam
outros grevistas.
10h O sol escaldante é o grande aliado
do Exército. Aos poucos, vão vencendo os manifestantes pelo desgaste. As
poucas sombras se tornam um refúgio. 11h Deputados da oposição
tentam entrar na AL para ajudar nas negociações. Mas a Casa Legislativa
não está mais sob o controle do Estado. Conforme termos assinados com o
governo federal, tornou-se área de controle da União, e o Exército acha
por bem não permitir que entrem.
11h30 Novas divisórias de metal são
instaladas para tentar isolar manifestantes do lado de fora. Os
manifestantes cantam o hino, arremessam garrafas de água vazias e
dispararam spray de pimenta contra Exército. A resposta, vem com mais
tiros de borracha e bomba de efeito moral. O cinegrafista da TV Band,
Levy Calmon, é atingido por um estilhaço da bomba no nariz a sai
sangrando. Na ação, um PM é baleado na perna com dois tiros de
borracha.
11h48 Chega a notícia que anima os
grevistas vinda do Rio de Janeiro. Os militares de lá mandaram a
mensagem de que também entrariam em greve, caso houvesse derramamento de
sangue dos policiais daqui.
12h14 Policiais dirigentes de diferentes
entidades começam a brigar entre si. Colegas precisam separar. Do outro
lado da trincheira, o Exército realiza trocas de turno
13h10 O Exército precisa deslocar tropas
para as entradas do CAB para resistir às tentativas de acesso. Os PMs
encontram entrada livre por uma floresta na Sussuarana. Trazem consigo
caixas com leite, frutas, iogurte, pão, biscoitos e água. Pelo novo
acesso, chegam centenas de pessoas. O grupo do lado de fora cresce,
chega a quase 2 mil.
14h30 Enquanto o sol castiga, apenas se
houve as voltas do insistente helicóptero que ronda a AL. O clima é de
expectativa de decisões que não seriam tomadas ali.
15h Deputados que foram barrados pela manhã, enfim, conseguem entrar.
16h30 Um
caminhão contratado pelo Exército chega com mais centenas de divisórias
de metais, para isolar ainda mais os PMs do lado de fora. Há a reação
imediata. Manifestantes devolvem material para o caminhão e começam a
entoar gritos de guerra. Desta vez, o Exército retira o caminhão.
20h10 Apesar
da aparente tranquilidade do início da noite, a movimentação dos
militares é intensa. O tenente coronel Márcio Cunha diz que o período da
noite é considerado "crítico” e que a tropa deve redobrar atenção e
afinco para manter o isolamento da área. 20h15 Grevistas voltam a se manifestar e cantam: "ô a PM parou”.
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