O Aedes aegypti, mosquito da dengue, voltou a figurar como vilão da
saúde pública de Salvador. De acordo com a coordenadora da Vigilância
Epidemiológica do Município, Cristiane Cardoso, até ontem, foram
registradas duas mortes por dengue. Esse número já corresponde à
metade de todos os casos de morte de 2010. As duas pessoas - uma
mulher de 32 anos de Itapuã e um homem de 25 anos do Cabula - morreram
depois do dia 19 de abril. Os nomes, porém, não foram divulgados pela
Secretaria Municipal da Saúde (SMS). O
último Índice de Infestação Predial (IIP) - que mede a porcentagem de
imóveis que apresentam larvas do mosquito -, referente a maio, mostra
que os 12 distritos sanitários de Salvador estão acima do nível máximo
recomendado pelo Ministério da Saúde, que é de 3,9% (veja mapa ao lado).
Ou seja, todos com risco de epidemia, de acordo com o IIP, que é
produto do 2º Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa)
de 2011. E o mosquito este ano anda preferindo os bairros
nobres - a liderança da infestação está no Distrito Sanitário da
Barra/Rio Vermelho. No total da cidade, o IIP dobrou e aumentou dos 3%
registrados em janeiro deste ano para 6%, ou seja, a cada 100 imóveis da
cidade seis têm focos. RiquezaSegundo a SMS, o
distrito Barra/Rio Vermelho contribuiu com o crescimento da infestação
na cidade, apresentando o índice de 8% - mais alto que a média obtida
na cidade e em regiões tipicamente problemáticas para a doença, como o
distrito do Subúrbio Ferroviário, que desta vez ficou na vice-liderança,
com IIP de 7,8%. Para quem está em campo, esse dado reflete
algumas das dificuldades encontradas pelos Agentes de Combate a Endemias
(ACE), durante o trabalho de prevenção realizado pela cidade.
"Enquanto nos bairros mais pobres temos problemas para entrar nas casas
porque, às vezes, as crianças são deixadas sozinhas, nos locais mais
nobres normalmente os empregados não nos deixam entrar quando os patrões
não estão em casa”, diz a agente Ana Carla Dávila. A
coordenadora do programa municipal de combate à dengue, Elaci Costa,
argumenta que nos bairros mais ricos houve aumento de quantidade de
focos em recipientes domésticos. "Notamos crescimento em vasos de
plantas e outros reservatórios em imóveis desse distrito”.DescasoA
aposentada Valdete Rosa, 75 anos, que mora no Parque Júlio César, na
Pituba, área que compõe o distrito líder de infestação, admite que nunca
deixa entrar os agentes de combate. "Eu fico sozinha o dia inteiro em
casa, e meus filhos me pedem para não abrir a porta pra ninguém. Hoje em
dia é muito perigoso”, afirma, enquanto mostra os vasos de planta
limpos e com areia nos pratos.Já a dona da casa Nádia Maciel,
também moradora da Pituba, explica que a construção de um prédio ao lado
fez com que a limpeza diária da piscina fosse inútil por conta da queda
de resíduos. "Os agentes vieram e nos mandaram colocar uma tampinha de
água sanitária por dia”, conta. ExplicaçãoApesar do
alto IIP, o número de casos confirmados de dengue ainda não está
elevado. Foram 1.244 até o início de maio, redução de 26% com relação ao
mesmo período do ano passado. Contudo, como o índice mede a quantidade
de larvas, se não houver combate aos focos há risco de as larvas virarem
mosquitos e, consequentemente, haver avanço da doença, o que provocaria
uma epidemia na cidade. "A infestação não significa que já há mosquitos
voando. É preciso combater os focos para evitar que os mosquitos se
desenvolvam e passem a transmitir a dengue”, esclarece Eliaci.
Fonte: Correio24horas
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