Mesmo sem acordo entre governo e empresários
do setor de transporte, os deputados da Assembleia Legislativa
aprovaram por unanimidade, nesta terça,10, o projeto de lei que prevê
gratuidade para pessoas com deficiência nos transportes coletivos
intermunicipais da Bahia, a lei do passe livre.
Pela primeira vez na Casa, a mesa permitiu que um grupo, no
caso cadeirantes e pessoas com outras deficiências, acompanhasse a
votação no Plenário. Alguns parlamentares já previram um aumento da
tarifa de passagem em razão da gratuidade já que, segundo eles, "alguém tem que pagar a conta”.
O projeto, elaborado pelo Conselho Estadual dos Direitos da
Pessoa com Deficiência em parceria com o Executivo, diz que pessoas com
deficiência e "comprovadamente carentes” poderão viajar
de graça pelo Estado, com o benefício estendido a um acompanhante, nos
modais rodoviário, ferroviário, aquaviário e metroviário.
Cada ônibus terá de reservar duas poltronas às pessoas com
deficiência, que, segundo a lei, são "aquelas que têm impedimentos de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial”. O
texto segue para sanção do governador Jaques Wagner (PT) e a lei deve
vigorar 120 dias após a publicação.
Reações - Alguns deputados discursaram em Plenário já blindando um reajuste de tarifas das passagens. Na Bahia, a estimativa do IBGE é a de que 20% da população seja de pessoas com deficiência, cerca de 2,8 milhões de usuários.
O projeto estava parado desde o ano passado. Empresários queriam que o
governo bancasse pelo menos 5% dos custos com a gratuidade. Emenda com
esse teor foi apresentada por Luiz Augusto (PP), mas não foi acolhida
pelo relator, Bira Coroa (PT). O setor é representado na Casa pelo
deputado Ronaldo Carletto (PP), um dos sócios do Grupo Brasileiro que
congrega empresas que dominam as linhas de transportes que rodam no sul
do Estado.
Carletto diz que é favorável à gratuidade, mas afirma que "quem vai
pagar a conta é a população pobre”. A alegação do deputado é a de que o
lucro do empresário do setor hoje não chega a 7%, já que muitas pessoas
passaram a viajar de avião. "Se a gente perde duas cadeiras, perde 5% do
ônibus!”. O orgão do governo responsável pelo cálculo das tarifas é a
Agerba (considerando combustível, distância, etc.). No recálculo, prevê
Carletto, vai sobrar para o usuário.
O líder da maioria, Zé Neto (PT), porém, deixou clara a posição do
governo: "Se todo direito social o governo tiver de pagar e um
concessionário público não tiver responsabilidade social, vamos voltar
no tempo e parar”. Segundo Mário Lima, procurador do Estado e pessoa com
deficiência visual, estimativa da própria Agerba é a de que a ocupação
dos ônibus seja em média de 70%. Ou seja, há 30% dos lugares ociosos.
"Juridicamente não existe impacto financeiro, estão dando duas cadeiras
dos 30%”.
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