
É a partir das 22h que os donos começam a tomar
conta de casa. Chegam em grupos de três, quatro ou até cinco. Já perto
da meia-noite são cerca de 20 reunidos. A maioria é de crianças ou
adolescentes. Bebem, comem, dormem, transam, usam e até vendem drogas.
Tudo isso dentro da segunda maior estação de transbordo de Salvador, a
Pirajá.
Numa convivência nada pacífica, eles brigam... e
muito. É comum que haja agressões com garrafadas e facadas. "Esses
meninos vivem em pé de guerra. De madrugada, quando eu ia chegando, já
vi um ferido. Isso aqui acontece sempre”, relata um segurança da estação
por onde passam 160 mil passageiros por dia. Quem circula pela
estação sofre com a degradação do equipamento público. Os usuários
penam nos banheiros de insuportável fedor e com a falta de segurança
para protegê-los jovens infratores que lá moram. Isso mesmo, moram. "Tem
uns dez que vivem aqui. Dormem em cima do telhado da estação, cheiram
pedra, cola e passam o dia na espreita para roubar passageiros”, revela
um vendedor de lanches. Os menores são alimentados no vício por
um traficante conhecido como Rony, que lucra com o fornecimento de
drogas para o grupo. Para ele, a Estação Pirajá é um paraíso. Segundo a
Polícia Militar, uma viatura da 48ª Companhia Independente (Sussuarana)
fica no local nos horários de pico, entre 18h e 22h.
Após esse horário, aparece periodicamente em rondas
que não conseguem coibir a ação dos adolescentes. A partir da 1h, quando
praticamente não há mais passageiros, o uso e a venda de drogas viram a
principal atividade da estação. A equipe do CORREIO esteve no
local durante a madrugada e flagrou crianças que aparentavam cerca de
12 anos em negociações. O consumo de drogas acontece na cobertura
metálica, que é facilmente acessada por dos galhos das árvores em volta
da estação.
Sexo As cenas de sexo, segundo o gestor
substituto do equipamento público, Hélio Barbosa do Santos, podem ser
observadas por quem se arriscar a entrar nos banheiros. "Eu não lhe
recomendo ir lá”, aconselhou o gestor. Mas não é só no banheiro
que elas acontecem. "Eles vivem fazendo libertinagem aqui. Canso de ver
nos finais de semana, principalmente os grupos de quatro, cinco meninos
com duas meninas transando e usando drogas nas escadas que dão na
administração”, conta a empregada doméstica Rosa Dias, que costuma pegar
ônibus na estação. O titular da 11ª Delegacia (Tancredo Neves),
Guilherme Machado, assegurou que uma equipe de agentes colhe
informações sobre os membros do grupo para encontrar formas de chegar ao
traficante Rony. Segundo ele, a delegacia que respondia pela Estação
Pirajá era a 10ª (em Pau da Lima), mas a região foi transferida para sua
zona de atuação há três meses. "É uma área nova, então estamos
trocando informações com a 10ª (delegacia), mas estamos cientes da
atuação dos jovens. Eu tenho conhecimento desse Rony, mas não posso
falar mais que isso”, afirmou. O delegado ponderou, entretanto,
que só a polícia não acabará com o problema. "O crack é uma mazela
social. A gente apura, tira das ruas, mas logo em seguida está todo
mundo lá de novo. Sem uma ação integrada entre governo, prefeitura e
população para encarar o crack de frente, não vamos resolver nada”,
avalia.
Policiamento Em junho do ano passado, a
administração da estação cedeu à Polícia Militar a sala elevada que tem
posição estratégica, por ter visão em 360º do local. Segundo o gestor
Hélio Barbosa, atualmente, a sala encontra-se abandonada.
A PM, por meio de sua assessoria, afirma que
policiais em ronda por vezes sobem para fazer observações, mas não
permanecem no local por uma questão estratégica. Para ajudar nas
investigações de crimes cometidos dentro da estação, ainda há duas
câmaras de segurança, instaladas na entrada e na saída de pessoas. Estas
filmagens, entretanto, não registram o que acontece do lado de dentro.
Fonte: Correio*
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