Os
impactos da concorrência do gás de shale dos EUA estão afetando drasticamente a
indústria petroquímica nacional. A Tribuna da Bahia conversou com o coordenador
do Comitê de Petróleo e Gás da Federação das Indústrias do Estado da
Bahia, Fieb, Eduardo Rappel, que fez uma análise do atual momento da indústria.
"O gás, encontrado em abundância nos EUA, revolucionou o mercado industrial
internacional pelo preço baixo do produto, que chega a ser comercializado entre
US$ 5 e US$ 6 por milhão de BTU, ao passo que o gás brasileiro pode chegar a
custar US$ 17 por milhão de BTU. A utilização do shale gás pelos EUA há dois
anos na indústria petroquímica gerou uma nova revolução industrial. O processo
de extração desse gás não é inovador, surge de um processo já conhecido sem
necessidade de inserção de uma tecnologia mais avançada, ou seja, aproveita a
expertise existente, diferente, por exemplo, do gás do pré-sal. O shale gás
também se encontra no Brasil, e a Bahia tem duas bacias com potencial:
Recôncavo e São Francisco. A região já catalogada de existência desse gás
começa no estado de Minas Gerais e segue até o município de Luis Eduardo
Magalhães”, revela.
Para
Rappel, a região oeste, conhecida pelo potencial agroindustrial, com a possibilidade
de exploração de gás será bastante beneficiada. "Isso é interessante sob o
ponto de vista da carência que aquela região possui de energia. Entretanto é
preciso registrar que a bacia que apresenta maior potencial é a do Recôncavo.
Outro fator estratégico para a Bahia diz respeito à possibilidade de aproveitar
a rede de gasoduto já instalada. A Bahia, em virtude da presença da indústria
do petróleo, já dispõe de redes de escoamento que podem ser oportunizadas no
escoamento desse gás”, avisa. O coordenador da Comissão de petróleo e gás
esclarece que o gás influencia na composição dos custos de produção da
indústria. "Oscila entre 5% a 40% e isso varia de produto a produto. A
indústria baiana hoje se encontra em desvantagem devido ao preço do gás.
A Agência Nacional do Petróleo, após participar de um evento ano
passado na Fieb, se convenceu da situação delicada que se encontra a indústria
nacional com a concorrência do gás norte-americano e marcou a realização de
leilões até novembro próximo de áreas com esse mesmo tipo de gás em solo
brasileiro, mas elas devem entrar em operação em 2015”, frisa.
Sobre
o gás boliviano, utilizado na indústria nacional, Rappel faz algumas ressalvas.
"Ele custa US$ 11 por milhão de BTU e aquele país vem fazendo constantes
reajustes no preço do insumo”. Ele ainda revela que além dos EUA e Brasil,
há shale gás na China. "Os chineses têm a maior reserva do mundo e agora vai
começar a exploração. A Argentina tem a segunda maior reserva. Se iniciar a
operação, as chances de baratear o custo do gás são imensas”,
esclarece. Eduardo Rappel ainda comentou sobre a gasolina. Na sua visão, o
país corre o risco de sofrer um apagão do produto. "Até dois anos o país era
autossuficiente, mas interferência indevida na gestão da Petrobras mudou esse
cenário. Em 2009, com a crise econômica, o governo Lula estimulou o consumo de
carro. Aumentou a quantidade de veículos e sentimos os efeitos nos grandes
engarrafamentos. Não se investiu em infraestrutura urbana e hoje podemos chegar
a sofrer com a falta de combustíveis”, esclarece.
Rappel
cita que a elevação do consumo da gasolina trouxe aumento da importação. "O
governo Dilma mantém a mesma política do governo Lula. Importa-se o combustível
a um valor mais caro e segura no mercado interno sem repassar os aumentos. Do
outro lado encontramos os usineiros que deixaram de fabricar o álcool
combustível por força da concorrência com a gasolina. Aqui nos estados do
Nordeste as usinas podem produzir além do álcool combustível, o açúcar. Mas no
Sudeste, as mais novas, só produziam álcool. Há informações de usinas naquela
região que se encontram fechadas”, frisa e acrescenta: "A Petrobras investiu em
refinarias em Pernambuco e no Rio de Janeiro que não vão produzir gasolina num
momento que necessitamos de mais produção”. Ele alerta que os efeitos já
são sentidos na balança comercial brasileira. "Essas situações com o
combustível e o gás para a indústria fazem com que o Brasil esteja importando
mais do que exportando e os efeitos impactam no comércio exterior. Esperamos
que no caso da indústria o governo federal pratique uma desoneração. A briga há
cinco anos era do alto custo do preço do gás praticado pela Petrobras. Quanto
maior o preço do gás, menor a competitividade industrial. Infelizmente, o
governo está surdo. Não reconhece que fez besteira interferindo na gestão da
Petrobras e isso prejudica a indústria química e petroquímica nacional”,
conclui. Fonte: Tribuna da Bahia |