Um ano depois de o Supremo Tribunal
Federal (STF) condenar 25 réus do processo do mensalão,
maior escândalo político do governo Lula, 12 mandados de prisão foram expedidos
nesta sexta-feira (15) e os primeiros condenados começaram a se entregar no
início da noite.
Até as 20h25, os condenados que já haviam chegado a sedes da Polícia
Federal eram: José Genoino, José Dirceu (SP), Simone Vasconcelos, Cristiano
Paz, Romeu Queiroz e Kátia Rabello (MG) e Jacinto Lamas (DF). Advogados de
Marcos Valério e outros réus dizem que eles se entregarão ainda nesta sexta.
Em julgamento realizado em 2012, sete anos depois que o escândalo
estourou durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), o STF considerou que um grupo comandado por José Dirceu, então chefe da
Casa Civil, operou um esquema de compra de votos no Congresso (saiba as conclusões do
julgamento).
Depois de uma fase em que as penas foram definidas ainda em 2012 (dosimetria)
e um período em que os réus puderam apresentar recursos contra as decisões, o
STF julgou esses recursos até setembro, aceitando parte
deles rejeitando outros. No dia 13 de novembro, o tribunal
decidiu que já era possível
fazer cumprir as penas definitivas (transitadas em
julgado), mesmo que o réu ainda posso recorrer de parte das condenações.
Ordens de prisão
As ordens de execução imediata das penas foram dadas pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa,
e chegaram à Polícia Federal em Brasília por volta das 16h10 pelas mãos de dois
oficiais de Justiça. A PF disse que enviaria os ofícios para as
superintendências regionais por meio de fax para iniciar a execução das
prisões. A polícia não divulgou o teor dos ofícios.
Segundo a PF, um avião deve buscar os presos
nos estados e levá-los a Brasília nos próximos dias.
O primeiro condenado a se entregar foi o deputado federal e
ex-presidente do PT, José Genoino. Ele
chegou à sede da PF em São Paulo por volta das 18h20. Em
nota divulgada antes de sair de sua casa, na Zona Oeste de São Paulo, Genoino
disse que cumpriria a decisão "com indignação" e reafirmou que se
considera inocente.
José Dirceu disse que prisão é injusta, mas que
cumprirá decisão. O presidente do PT, Rui Falcão,
classificou as prisões como "casuísmo jurídico".
Condenados com mandado de prisão
A Polícia Federal em Brasília informou que os 12 mandados são referentes aos
seguintes réus:
José Dirceu, ex-ministro
da Casa Civil
- Pena total: 10 anos e 10 meses
- Crimes: formação de quadrilha e corrupção ativa
José Genoino, deputado federal licenciado (PT-SP)
- Pena total: 6 anos e 11 meses
- Crimes: formação de quadrilha e corrupção ativa
Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT
- Pena total: 8 anos e 11 meses
- Crimes: formação de quadrilha e corrupção ativa
Marcos Valério, apontado como
"operador" do esquema do mensalão
- Pena total: 40 anos, 4 meses e 6 dias
- Crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro
e evasão de divisas
José Roberto Salgado,
ex-dirigente do Banco Rural
- Pena total: 16 anos e 8 meses
- Crimes: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e
evasão de divisas
Kátia Rabello,
ex-presidente do Banco Rural
- Pena total: 16 anos e 8 meses
- Crimes: formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e
evasão de divisas
Cristiano Paz, ex-sócio de Marcos Valério
- Pena total: 25 anos, 11 meses e 20 dias
- Crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato e lavagem de
dinheiro
Ramon Hollerbach,
ex-sócio de Marcos Valério
- Pena total: 29 anos, 7 meses e 20 dias
- Crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro
e evasão de divisas
Simone Vasconcelos,
ex-funcionária de Marcos Valério
- Pena total: 12 anos, 7 meses e 20 dias
- Crimes: formação de quadrilha, corrupção ativa, lavagem de dinheiro e evasão
de divisas
Romeu Queiroz, ex-deputado
pelo PTB
- Pena total: 6 anos e 6 meses
- Crimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Jacinto Lamas, ex-tesoureiro
do extinto PL (atual PR)
- Pena total: 5 anos
- Crimes: corrupção passiva e lavagem de dinheiro
Henrique Pizzolato,
ex-diretor do Banco do Brasil
- Pena total: 12 anos e 7 meses
- Crimes: formação de quadrilha, peculato e lavagem de dinheiro
Barbosa
Desde o início do dia, o presidente do Supremo Tribunal Federal e relator do
processo, ministro Joaquim Barbosa, esteve reunido com assessores para
finalizar um levantamento sobre a pena que cada um dos condenados começará a
cumprir.
Nesta sexta (15), o STF publicou na movimentação processual da ação
penal 470, do mensalão, que nove réus não têm mais possibilidades de recurso e
por isso tiveram o processo encerrado para parte das condenações (o chamado
trânsito em julgado). São eles o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, o
ex-presidente do PT José Genoino, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, a
ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabelo, o ex-vice-presidente do Banco Rural
José Roberto Salgado, o operador do esquema Marcos Valério, sua ex-secretária
Simone Vasconcelos, o ex-advogado de Valério Cristiano Paz e o ex-sócio de
Valério Ramon Hollerbach.
Nesta quinta, outros sete réus também
tiveram o processo declarado como transitado em julgado: o delator do mensalão,
Roberto Jefferson; o ex-deputado José Borba; o ex-tesoureiro do extinto PL
Jacinto Lamas; o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato; o
ex-primeiro secretário do PTB Emerson Palmieri; o ex-dono da corretora
Bônus-Banval Enivaldo Quadrado e o ex-deputado Romeu Queiroz.
Além desses 16 condenados, há outros seis réus que apresentaram embargos
infringentes em relação a todos os crimes pelos quais foram condenados, mas que
não obtiveram ao menos quatro votos favoráveis. De acordo com o regimento do
Supremo têm direito aos infringentes (que podem levar a um novo julgamento)
todos os réus que obtiveram ao menos quatro votos contrários à condenação. |