
No
interior da Bahia, mulheres estão oferecendo barriga de aluguel a
casais com dificuldades em ter filhos, uma prática ilegal que pode dar
oito anos de cadeia.
Uma busca rápida na internet é
suficiente para encontrar dezenas de anúncios de mulheres se dispondo a
alugar a barriga. Algumas cobram até R$ 150 mil pelo serviço.
Um anúncio leva a uma moça de 34 anos
que mora em Vitória da Conquista, interior da Bahia. A produtora do
Jornal da Globo marcou um encontro com a mulher como se estivesse
interessada no aluguel.
A mulher, que trabalha como merendeira
numa escola da zona rural, cobra R$ 30 mil. "Pelo preço, eu acho que
está em conta para vocês. Você falou R$ 25 mil. Eu disse não. Eu faço,
no caso, de R$ 30 mil".
Ela
justifica o preço. "Pensei em colocar pelas dificuldades que a gente
passa no dia a dia. Eu tenho uma filha que jamais quero que passe pelas
dificuldades que eu passei", diz.
O Brasil não tem legislação específica
para barriga de aluguel, mas um criminalista diz que quem recorre ao
serviço pode ser enquadrado na lei de transplantes, que proíbe a compra
e a venda de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano e prevê até oito
anos de prisão.
"Há quem entenda que, quando uma mulher
aluga a sua barriga, ela estará vendendo a sua placenta e estaria
enquadrada neste dispositivo", explica o advogado criminalista Fabiano
Pimentel.
A forma como os médicos devem agir
nesses casos é determinada pelo Conselho Federal de Medicina. O
procedimento só é permitido quando há parentesco de até segundo grau
entre a mulher que doa o óvulo e a que empresta o útero. Também não
pode haver interesse financeiro envolvido.
"Se ele vai ferir a resolução, ele está
fazendo um ilícito ético e aí ele vai ser punido pelo conselho regional
de medicina de sua jurisdição. Isso é para proteger a dignidade do ser
humano, a dignidade da vida, inclusive da criança", diz Nedy Neves,
secretária do Conselho Regional de Medicina da Bahia (CRM-BA).