Morreu às 14h41 desta terça-feira, aos 79 anos, o empresário mineiro
e ex-vice-presidente da República José Alencar (PRB), no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo. De acordo com nota oficial da instituição,
Alencar morreu em decorrência de câncer - doença contra a qual lutava
desde 1997 - e falência de múltiplos órgãos. Assinam o documento o
doutor Antonio Carlos Onofre de Lira, diretor técnico do hospital, e o
doutor Paulo Ayrosa Galvão, diretor clínico.
O ex-vice foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na
segunda-feira, com um quadro de suboclusão intestinal, em "condições
críticas". Ele havia recebido alta em 15 de março, após uma internação
de mais de um mês na instituição devido a uma peritonite (inflamação da
membrana que reveste a cavidade abdominal) por perfuração intestinal.
Nascido em 17 de outubro de 1931, José Alencar foi o 11º filho de um
total de 15 do casal Antônio Gomes da Silva e Dolores Peres Gomes da
Silva. O ex-vice-presidente nasceu em um povoado às margens de Muriaé,
cidade de 100.063 mil habitantes no interior de Minas Gerais. José
Alencar era casado com Mariza Campos Gomes da Silva e deixou três
filhos reconhecidos: Josué Christiano, Maria da Graça e Patrícia.
Ele começou a trabalhar aos 7 anos, no balcão da loja do pai. Em
1946, aos 15, deixou a casa da família, na zona rural, para trabalhar
como balconista em uma loja de tecidos da cidade. Dois anos depois, em
maio de 1948, José Alencar mudou-se para Caratinga, onde conseguiu
emprego como vendedor. Ao completar 18, em 1950, Alencar abriu seu
próprio negócio, com a ajuda de um dos irmãos. Em 1967, em parceria com
o empresário e deputado Luiz de Paula Ferreira, fundou, em Montes
Claros (MG), a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), hoje um
dos maiores grupos industriais têxteis do País.
Nos anos seguintes, José Alencar foi presidente da Associação
Comercial de Ubá, diretor da Associação Comercial de Minas, presidente
do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais e
vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria.
Estabelecido no setor empresarial, candidatou-se para o governo de
Minas em 1994 e, em 1998, disputou uma vaga no Senado Federal,
elegendo-se por Minas Gerais com quase 3 milhões de votos. No Senado,
foi presidente da Comissão Permanente de Serviço de Infraestrutura,
membro da Comissão Permanente de Assuntos Econômicos e membro da
Comissão Permanente de Assuntos Sociais.
Embora tenha se caracterizado como a principal voz dissonante do
governo Lula em relação à política de juros ao longo dos oito anos de
mandato, sua inclusão na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002 foi
decisiva para que o petista conquistasse o apoio do empresariado e,
pela primeira vez, a Presidência do País.
A presença de Alencar foi decisiva na vitória de Lula ao angariar o
apoio do empresariado, desconfiado com a possibilidade de um presidente
da República sindicalista. Em 2004, Alencar passou a acumular a
vice-presidência com o cargo de ministro da Defesa, função que exerceu
até março de 2006. Em 2007, assumiu o segundo mandato como
vice-presidente após ser reeleito, novamente, ao lado de Lula.
Alencar se desligou do Partido Liberal (PL) em 29 de setembro de
2005, após a crise envolvendo o nome de seu sobrinho Daniel Freitas, um
dos fundadores da DNA Publicidade e falecido em 2002. A DNA, que tem
como sócio o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, foi
investigada por suposto envolvimento no escândalo do mensalão. Ainda em
2005, juntamente com outros ex-membros do PL, Alencar participou da
fundação de um novo partido: o Partido Republicano Brasileiro (PRB).
No tempo em que ocupou o cargo de vice-presidente, José Alencar
ganhou os títulos de cidadão honorário dos Estados do Rio Grande do
Norte, Paraíba, Sergipe, do Distrito Federal e de 53 municípios
brasileiros, sendo 51 deles em Minas Gerais.
Juros
Desde o início do primeiro mandato, o empresário
foi voz discordante da política econômica do governo Lula, comandada
então pelo ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci. Mudou o titular da
pasta, assumiu Guido Mantega, mas não o discurso de Alencar. Ao longo
de oito anos, sua posição pela queda na taxa de juros foi tão ferrenha
que se tornou uma marca registrada.
Tanto que, ao comentar o bom estado de saúde do então vice após a
cirurgia de 17 horas a que ele se submeteu em janeiro de 2009 - a mais
complexa que enfrentou na luta contra o câncer -, o então presidente
Lula afirmou, em tom de brincadeira: "tenho certeza de que a primeira
palavra dele será para pedir a redução da taxa de juros".
Câncer
Alencar lutou contra o câncer desde 1997, quando,
após um check-up, foi encontrado um tumor no rim direito e outro no
estômago, retirados naquele mesmo ano. Em 2000, uma nova cirurgia
retirou um tumor na próstata. Depois da remoção de outros nódulos no
abdome, Alencar foi diagnosticado com câncer no intestino.
Em janeiro de 2009, ele enfrentou cerca de 17 horas de operação para
a retirada de nove tumores na região abdominal. Na mesma cirurgia, os
médicos retiraram parte do intestino delgado, outra do intestino grosso
e uma porção do ureter, canal que liga o rim à bexiga. Alencar chegou a
ficar internado 22 dias após a operação.
Reconhecimento de paternidade
Alencar morreu em meio a um
polêmico reconhecimento de paternidade disputado na Justiça. Em julho
de 2010, a Justiça de Caratinga (MG) concedeu à professora Rosemary de
Morais, 55 anos, o direito de ser reconhecida como filha do empresário.
Ela seria fruto de um relacionamento com uma enfermeira, na década de
50.
Alencar se recusou a fazer o teste de DNA e sua defesa contestou a
decisão. Em setembro do mesmo ano, o então vice-presidente obteve no
Tribunal de Justiça de Minas uma liminar para impedir o uso do
sobrenome e a mudança do registro de nascimento da professora. O
recurso ainda será analisado pela corte.
Internação antes do 2° turno e infarto
Alencar foi
internado no hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, no dia 25 outubro de
2010, a menos de uma semana do segundo turno das eleições. O ex-vice
deu entrada na instituição com quadro de suboclusão intestinal, um
entupimento parcial do intestino. Por estar hospitalizado, Alencar não
pôde registrar seu voto no pleito, que encerrou com a vitória da
petista Dilma Rousseff.
No dia 11 de novembro, Alencar se sentiu mal no hospital e foi
diagnosticado um infarto agudo do miocárdio. Ele foi submetido a um
caterismo, mas os médicos não encontraram obstruções arteriais
importantes. O então vice ficou internado até 18 de novembro.
Hospitalizado, Alencar perde posse de Dilma Rousseff
Após
outra internação e da 16ª cirurgia no final de novembro, Alencar voltou
ao Sírio-Libanês em 22 de dezembro de 2010, com um sangramento
intestinal grave. Apesar dos procedimentos que controlaram a hemorragia
e da insistência do então vice em acompanhar a transmissão de cargo de
Lula para Dilma Rousseff, os médicos não permitiram a viagem até
Brasília.
Homenagem no aniversário de São Paulo
Em 25 de janeiro de
2011, quando a capital paulista completou 457 anos, Alencar recebeu a
Medalha 25 de Janeiro, uma homenagem da prefeitura, das mãos da
presidente Dilma Rousseff. O ex-vice deixou o hospital, com autorização
da equipe médica, somente para a cerimônia.
Visivelmente emocionado, Alencar afirmou que fazia um discurso "de
coração" e que está "vencendo as dificuldades". "Eu tinha um texto
preparado no bolso, mas resolvi falar do coração. Ainda que (as
dificuldades) sejam fortes, estamos vencendo. Quem fica num hospital
esse tempo (90 dias, segundo seus cálculos), tem muitas reflexões... Se
eu morrer agora, é um privilégio, porque é tanta gente torcendo por
mim... Se eu morrer agora, tá bom demais", disse. O evento contou com a
presença do ex-presidente Lula.