A
Polícia Rodoviária Federal (PRF) informou que ainda não registra
nenhuma desmobilização de pontos de manifestação de caminhoneiros nas
rodovias do país, após o anúncio de um acordo com o governo nessa
quinta-feira (24).
Na Régis Bitencourt, em São Paulo, carretas e
caminhões permanecem estacionadas ao logo da rodovia. O mesmo ocorre em
rodovias no Paraná, em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul, estado que
apresenta 74 pontos de manifestação. No Distrito Federal, a PRF
registra manifestação de caminhoneiros na BR-020, BR-060, BR-070 e
BR-080.
Em Brasília, durante toda a madrugada e no começo desta
manhã, motoristas ainda fazem filas para abastecer seus carros nos
postos que mantêm estoques de gasolina e diesel, caso do posto Shell da
Quadra 307, na Asa Norte, no Plano Piloto. No local, a fila de carros
para abastecer chega a entrar na área de estacionamento da quadra
residencial.
Acordo
Pelo acordo firmado
ontem à noite entre o governo e representantes dos caminhoneiros, a
paralisação será suspensa por 15 dias. Em troca, a Petrobras mantém a
redução de 10% no valor do diesel nas refinarias por 30 dias, enquanto o
governo costura formas de reduzir os preços. A Petrobras mantém o
compromisso de custear esse desconto, estimado em R$ 350 milhões, nos
primeiros 15 dias. Os próximos 15 dias serão patrocinados pela União.
O
governo também prometeu uma previsibilidade mensal nos preços do diesel
até o fim do ano, sem mexer na política de reajustes da Petrobras, e
vai subsidiar a diferença do preço em relação aos valores estipulados
pela estatal a cada mês. "Nos momentos em que o preço do diesel na
refinaria cair e ficar abaixo do fixado, a Petrobras passa a ter um
crédito que vai reduzindo o custo do Tesouro”, disse o ministro da
Fazenda, Eduardo Guardia.
O governo também se comprometeu a zerar
a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) para o diesel
até o fim do ano. Também negociará com os estados, buscando o fim da
cobrança de pedágio para caminhões que trafegam vazios, com eixo
suspenso. "Chegou a hora de olhar para as pessoas que estão sem
alimentos ou medicamentos. O Brasil é um país rodoviário. A família
brasileira depende do transporte rodoviário. Celebramos esse acordo,
correspondendo a essas solicitações, dizendo humildemente aos
caminhoneiros: precisamos de vocês”, disse o ministro da Casa Civil,
Eliseu Padilha.
Para cumprir a proposta de previsibilidade mensal
nos preços do diesel até o fim do ano, o governo precisará negociar com
o Congresso o projeto aprovado ontem na Câmara que zera o PIS/Cofins
para o diesel. A ideia - apresentada nessa quinta-feira - é que o
tributo não seja zerado, mas usado para compensar a Petrobras em tempos
de alta no valor do barril do petróleo e para manter os preços
estáveis.
Quanto ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), que já tem projeto de alteração tramitando no Senado, o
governo também precisaria negociar com os governadores, pois se trata
de um imposto estadual. Segundo o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a
discussão será sobre a alteração do cálculo desse imposto, que varia de
acordo com o preço do combustível. Ou seja, se o diesel aumenta, o ICMS
também aumenta.
"PIS/Cofins e Cide têm um valor fixo por litro.
Como um dos problemas é a previsibilidade em função da política de
preços, vamos conversar com os governos estaduais para discutir uma
sistemática de cálculo do ICMS semelhante à do PIS/Cofins, ou seja, com
uma base fixa”, disse Guardia.
A decisão de suspender a
paralisação, porém, não é unânime. Das 11 entidades do setor de
transporte, em sua maioria caminhoneiros, que participaram do encontro,
uma delas, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), que
representa 700 mil trabalhadores, recusou a proposta. O presidente da
associação, José Fonseca Lopes, deixou a reunião no meio da tarde e
disse que continuará parado. "Todo mundo acatou a posição que pediram,
mas eu não. [...] vim resolver o problema do PIS, da Cofins e da Cide,
que está embutido no preço do combustível”, afirmou Lopes.
Os
ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de
Governo), Valter Casimiro (Transportes) e o general Sérgio Etchegoyen
(Gabinete de Segurança Institucional) se sentaram à mesa com
representantes dos caminhoneiros, em busca de uma trégua na paralisação,
que afeta a distribuição de produtos em todo o país. Os ministros
entendem que o governo e a Petrobras têm mostrado iniciativa suficiente.
Os
representantes dos caminhoneiros pedem o fim da carga tributária sobre o
óleo diesel. Eles contam com a aprovação, no Senado, da isenção da
cobrança do PIS/Pasep e da Cofins incidente sobre o diesel até o fim do
ano. A matéria foi aprovada ontem pela Câmara e segue agora para o
Senado. Caso seja aprovada, a isenção desses impostos precisará ser
sancionada pelo presidente da República.