A médica
Virgínia Soares de Souza, que trabalha na UTI do Hospital Evangélico, em
Curitiba (PR), foi presa na manhã de ontem durante operação do Núcleo de
Repressão aos Crimes Contra a Saúde (Nucrisa), da Polícia Civil. Ela é
suspeita, segundo fontes ligadas à polícia, de ter praticado eutanásia (indução
à morte de pacientes com consentimento, mas que é crime no Brasil) e vinha
sendo investigada havia um ano, juntamente com outros profissionais. Pelo menos
18 casos estão sob investigação.
Logo após seu depoimento,
a médica foi levada ao Centro de Triagem na capital. Cerca de 20 pessoas que
atuam ou trabalharam na UTI estão sendo ouvidas.
A Polícia Civil não
revelou quantos casos de eutanásia teriam sido praticados pela médica, pois a
investigação corre sob sigilo de Justiça. Mas, além da prisão da profissional
de saúde, a polícia levou 18 prontuários de pacientes que estiveram na UTI nos
últimos meses e se colocou à disposição de pessoas que perderam familiares na
UTI e queiram prestar algum tipo de queixa.
A delegada Paula
Brisola concederia uma entrevista coletiva no final da tarde. Mas, 30 minutos
depois do horário previsto, a Secretaria de Segurança Pública informou que
somente o secretário Cid Vasquez falaria sobre as investigações, hoje. Antes, a
delegada havia dito a uma emissora de TV que não poderia dar detalhes da
operação. "Uma palavra mal interpretada pode provocar algum transtorno. É
um processo que está em andamento e não há como passar algo."
O advogado de
defesa de Virgínia, Elias Mattar Assad, falou que sua cliente trabalha desde
1988 no hospital e não há sentido em sua prisão. "Não há nada que desabone
o trabalho dela. Pode ter ocorrido um erro de interpretação em alguns termos
por meio de pessoas não familiarizadas com a linguagem de uma UTI", disse.
"Ela sempre agiu preservando vidas dentro da ética médica e dos critérios
nacionais de terapia intensiva, com criteriosas discussões dos casos com
médicos assistentes e famílias dos pacientes".
Segundo o
secretário estadual de Saúde, Michele Caputo Neto, "o Estado terá
participação na comissão de sindicância que vai investigar as mortes na
UTI".
Em nota, o Hospital
Evangélico informou que abrirá sindicância interna. Também declarou que, por se
tratar de processo que corre sob segredo de Justiça, não teria
"conhecimento adequado dos fatos para emitir qualquer juízo". Sobre
Virgínia, disse reconhecer a "competência profissional" e afirma que
"até o momento desconhece qualquer ato técnico da mesma que tenha ferido a
ética médica.”
Outros problemas.
Uma morte ocorrida na UTI do Evangélico em agosto passado chamou a atenção da
imprensa na época. A qual a direção do hospital admitiu o erro de uma
enfermeira, que desligou a máquina que mantinha vivo um paciente.
O paciente, João
Carlos Rodrigues, de 33 anos, sofria de uma rara doença neuromuscular
degenerativa e estava internado ali havia quatro anos e quatro meses. Rodrigues
escreveu um livro, Caçador de Lembranças, no qual relata desde os sintomas da
doença até a internação. Ao saber da morte do filho, a mãe de Rodrigues teve um
infarto fulminante e também morreu.
Além da morte de
Rodrigues, outra atribulação pela qual o Hospital Evangélico foi a acusação de
ter dívidas de até R$ 260 milhões. A unidade também foi obrigada a devolver R$
3,1 milhões ao Ministério do Esporte por conta de recursos recebidos para
treinamento de médicos para a Copa do Mundo, o que não ocorreu. Neste mês, o
hospital enfrentou greve de médicos. Fonte: Camaçari Noticia |