Uma
médica que atuava há cinco meses em Murici, zona rural de Sapeaçu,
na Bahia, acusa a prefeitura de tê-la demitido para que sua vaga fosse ocupada
por um profissional do programa Mais Médicos. Promovido pelo governo federal, o
programa objetiva levar médicos para regiões com deficiência na quantidade de
profissionais na área de saúde. Uma reportagem publicada nesta sexta-feira
(30) pelo jornal "Folha de S.Paulo" diz que ao menos 11 cidades,
incluindo a baiana, pretendem fazer demissões para alocar médicos do programa.
Procuradas pelo G1, algumas dessas prefeituras negam. Em Coari (AM), a
Secretaria da Saúde diz que vai remanejar médicos para a área rural, mas não
vai reduzir o número de profissionais. Anamã (AM) diz que tem apenas três
médicos e só vai receber um novo, sem qualquer possibilidade de demitir os
outros. Em Camaragibe (PE), o secretário de Saúde, Caio Mello, diz que na
cidade há atualmente 42 unidades do Programa de Saúde da Família (PSF), quatro
sem profissionais. E diz que as vagas pedidas são para esses cargos. No
caso de Sapeaçu, a médica Junice Maria Moreira conta que foi surpreendida no
dia 22 de agosto ao ser abordada por dois representantes da cooperativa que
representa os médicos na região. "Estava no plantão de 48 horas quando
chegaram dois rapazes de Feira de Santana se identificando como da cooperativa
e dizendo que eu estava sendo cortada do corpo clínico de Sapeaçu. Perguntei o
porquê e disseram que precisavam da minha vaga porque um cubano ia preencher
meu lugar", afirma a médica.
Sapeaçu
está na lista de cidades baianas que vão receber um profissional pelo programa
Mais Médicos, mas o prefeito Jonival Lucas Júnior nega que haja relação entre a
chegada de um novo médico e a demissão de Junice. "Em momento algum
pensamos em tirar ou substituir médicos. Ela está unindo duas coisas
completamente diferentes, mas infelizmente nós já tínhamos pedido à cooperativa
o desligamento dela por descumprimento da carga horária estabelecida pelo
Ministério da Saúde no PSF [Programa Saúde da Família]. A carga é de 40 horas
semanais, mas ela atende em outras cidades, como estaria cumprindo? Desde julho
detectamos esse problema no local onde ela trabalha. Ela está aproveitando o
momento para criar esse tumulto", diz o prefeito. Sobre a acusação de
não cumprir a carga horária determinada, a médica argumenta que desde o início
da prestação de serviço para a prefeitura foi acordado que o atendimento ia ser
feito apenas três dias na semana. "É uma mentira deslavada, foi um acordo
feito, como eu ia fazer alguma coisa da minha cabeça se sou contratada? Não sou
concursada nem nada. É um lugar muito longe, vou com meu carro, na estrada de
barro, não tenho ajuda de gasolina, de nada. Não tem paciente para ficar lá o
dia inteiro", justifica.
Em
nota, o Ministério da Saúde diz que "os municípios que se inscreveram no
Mais Médicos são proibidos, por força do termo de adesão e compromisso e da
portaria interministerial, de demitir profissionais já contratados para
substituí-los por participantes do programa". O ministério informa ainda
que os municípios que descumprirem esta regra serão excluídos do programa, com
remanejamento dos médicos participantes para outras cidades, além de serem
submetidos a uma auditoria do Ministério da Saúde. Ainda de acordo com a
nota oficial, o Ministério da Saúde informa que "enquanto os municípios
participarem do Mais Médicos, os municípios só poderão desligar médicos da
Atenção Básica em situações excepcionais justificadas à coordenação nacional do
Programa Mais Médicos, como, por exemplo, descumprimento comprovado de carga
horária e/ou outra falha ética ou profissional do médico". Um dos
diretores da cooperativa responsável por contratar médicos para o município de
Sapeaçu diz que também se surpreendeu com o pedido de desligamento da médica,
já que a equipe de Saúde da Família estava completa. Murilo Pinheiro destaca
que o salário dos profissionais recrutados pelo programa Mais Médicos é pago
pelo governo federal, o que pode gerar uma economia na folha de pagamento do
município.
"Recebemos
um comunicado extraoficial há cerca de dez dias de que a partir de setembro a
prefeitura não contrataria mais o serviço da cooperativa pela unidade que ela
trabalhava. Para a gente, foi uma surpresa porque a equipe de Saúde da Família
estava completa", relata Murilo Pinheiro, diretor da cooperativa, que
garante que a médica cumpria a carga horária determinada pela prefeitura da
cidade. O prefeito Jonival Lucas defende que Sapeaçú possui uma grande
demanda por profissionais e que nem sempre a gestão consegue manter um quadro
definitivo de médicos. "Mesmo a gente tendo médico, eventualmente você tem
problemas. Alguns municípios conseguem pagar salários maiores, a pessoa sai e a
gente tem dificuldade em repor. Temos hospital, centro médico, sete PSFs, é uma
demanda grande de profissionais. Isso que motivou a inscrição no
programa", explica o prefeito. Fonte: G1.com/BA |