Cientistas
da Faculdade de Medicina da USP aplicaram ontem em quatro macacos resos do
Instituto Butantan a primeira dose da vacina anti-HIV desenvolvida pelos dois
centros de pesquisa. Resultados preliminares sobre o potencial de proteção do
imunizante saem em abril. Na fase inicial da pesquisa, os animais
receberão três doses da vacina de DNA (uma a cada 15 dias). O material contém
informação genética que deve fazer o organismo dos macacos produzir fragmentos
do vírus. Espera-se que esses pedaços do HIV sejam capazes de preparar o
sistema imune dos hospedeiros para combater infecções. Na segunda fase do
teste, prevista para março, os animais --que têm de dois a sete anos de idade--
receberão um vírus de gripe modificado com pedaços do HIV, que tem a intenção
de dar um impulso final na imunização. Depois dessa etapa, se tudo der
certo, um segundo teste será feito com outros 28 macacos, num regime diferente
de aplicação da vacina. "Como a restrição de idade nos deixou com um
número pequeno de animais, achamos melhor fazer um primeiro teste em apenas
quatro deles", conta Edecio Cunha Neto, pesquisador da USP que liderou os
trabalhos de desenvolvimento da vacina. Os animais não serão injetados com
HIV. Para saber se seu organismo produz as células e moléculas necessárias à
imunização, pesquisadores vão retirar amostras de sangue dos macacos. No
laboratório, o material será exposto a fragmentos do vírus que devem ativar seu
sistema imune contra o parasita. Não é possível submeter os animais
vacinados a um desafio direto contra o HIV, porque ele não infecta macacos
naturalmente. O grupo já produziu uma versão da vacina contra a variedade símia
do vírus --o SIV--, mas o biotério do Instituto Butantan, a céu aberto, não
possui o nível de segurança necessário para manipular vírus ativos. Se
algum laboratório de alta segurança se interessar, a USP diz que está disposta
a fazer um estudo em colaboração. "Para nós, por enquanto, vai ser
suficiente saber que a vacina induz uma resposta potente nos macacos
resos", diz Cunha Neto. "Antes disso, porém, nós já poderíamos fazer
testes de segurança em humanos."
SEGURANÇA
- Antes
do início dos testes, o macacário do Butantan recebeu reforço de segurança, com
câmeras de monitoramento por vídeo 24 horas, entradas reforçadas, e aumento nos
turnos de vigilância. O instituto quer evitar que ativistas contra testes em
animais invadam o local e prejudiquem os trabalhos. "Há pessoas que
não entendem o quanto a saúde dos animais está sendo cuidada aqui e quanto o
teste pode impactar a humanidade no futuro", diz Susan Ribeiro, bióloga
que realiza o experimento. "Esses animais são tratados muito bem." A
Folha visitou ontem o biotério, onde macacos alimentados com ração e frutas convivem
em grupos com espaço para brincar. (Folha / Foto: Raquel Cunha) Fonte: Voz Bahia |