As ruas estavam desertas, as lojas fechadas e as
escolas e creches mandaram as crianças para casa mais cedo. Essa foi a
rotina ontem dos moradores de Portão, em Lauro de Freitas, na Região
Metropolitana de Salvador.
Segundo moradores, também no final da noite de
ontem, bandidos armados dispararam vários tiros em direção à 34ª
Delegacia. Houve corre corre, mas ninguém ficou ferido.
A população está assustada com um toque de recolher
instalado na região, após a chacina que deixou quatro pessoas mortas no
último domingo. "A diretora da escola me ligou às 13h para que eu fosse
buscar minha filha, por causa do toque de recolher”, disse uma moradora
que não quis se identificar.
Além das escolas e creches, o comércio também
começou a ser fechado depois do meio-dia. As ruas ficaram quase
desertas à tarde e os moradores evitaram até sentar na porta de casa.
"Minha irmã ligou pra mim por volta das 14h pra que eu voltasse pra casa
por causa do toque de recolher.
Eu trabalho em Vilas (do Atlântico) e tive que pedir
à patroa que me liberasse mais cedo por causa disso”, afirmou uma
empregada doméstica, que também não quis se identificar.
Entre os moradores correm duas versões do toque de
recolher. Uma de que a ordem teria sido dada pelos bandidos, e outra de
que o alerta teria partido de policiais.
Porém, o coronel Everaldo Mendes, comandante da PM na Região Metropolitana, nega o toque de recolher.
"De jeito nenhum há toque de recolher em Portão. A
população está assustada, com medo. É a mesma situação que tivemos em
Abrantes, quando, por causa do medo, a população também afirmou que
havia toque de recolher”, assegurou.
Ele afirmou que seis carros da PM estão fazendo a
ronda no bairro, que conta com reforço de policiais da Rondesp. "Estamos
fazendo tudo para dar tranquilidade e segurança para a população”,
completa.
A empregada doméstica que não quis ser identificada
afirma que desde domingo os moradores estão apreensivos e se trancando
em casa, com medo de que outra chacina volte a acontecer. "Você sabe,
não é? Parede não protege ninguém. Só Deus”, reflete.
Chacina A chacina de domingo passado
deixou quatro mortos: a estudante de 14 anos, Tainara Conceição Santos, a
autônoma e vizinha da estudante Jandira dos Santos, 43, o jovem Natan
Lima da Silva, 20 anos, e Abraão Felipe Ramos Marques, 15.
Todos morreram depois que cerca de 30 homens
chegaram atirando a esmo na praça do Pé Preto, segundo moradores. Dos
quatro mortos, o corpo do jovem Abraão só foi encontrado três dias após o
crime, no quintal de uma casa do bairro.
Ontem, uma operação das polícias Civil e Militar foi
realizada em Portão. Mas, segundo o coronel Evandro Mendes, ninguém foi
preso e nada foi apreendido. Na terça-feira, o delegado Cláudio
Meirelles, titular da 34ª Delegacia, disse que os autores do crime já
foram identificados, mas tiveram os nomes preservados. Segundo
moradores, os homens que chegaram atirando são traficantes da rua Queira
Deus. Ricardo Silva dos Santos, o Babão, é apontado como líder do
grupo.
Corpo de jovem é sepultado O corpo de Abraão
Felipe Ramos Marques, 15 anos, foi sepultado, ontem à tarde, no
Cemitério Municipal de Brotas. Inconsolável, a mãe do rapaz não falou
com a imprensa e precisou ser amparada por parentes e amigos. "Era um
menino muito bom, não merecia isso”, afirmou uma amiga da família que
não se identificou.
Depois da matança de domingo na praça do Pé Preto,
ela procurou pelo filho durante três dias em vários hospitais e no IML,
antes de encontrá-lo morto em pleno Dia das Crianças no quintal de uma
casa. Ele foi atingido por disparos na chacina.
A polícia acredita que o adolescente tentou pular um
muro para escapar dos tiros, mas acabou baleado e caiu no quintal de
uma casa. O jovem e a família haviam se mudado para Portão há cerca de
um mês, para fugir da violência na Fazenda Grande do Retiro.
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