Um dos motivos que levaram a Justiça Federal a suspender o concurso dos
Correios é a suspeita de que a estatal mentiu. Explica-se. O reitor da
UnB, José Geraldo de Souza Junior, afirmou ao Ministério Público
Federal que o Cespe, entidade ligada à universidade, não recebeu
qualquer pedido para apresentar proposta de aplicação da prova. O
concurso é o maior do Brasil este ano, com 1 milhão de candidatos para
cerca de 6 000 vagas.A manifestação do reitor, encaminhada no dia
1º de setembro à procuradora Raquel Branquinho, foi fundamental para
que o juiz Paulo Ricardo de Souza Cruz, da 5ª Vara Federal, suspendesse
a realização da prova, marcada para o dia 28 de novembro.Há meses,
o MP apura se houve favorecimento na escolha da Fundação Cesgranrio,
por dispensa de licitação ao preço de 26,5 milhões. Motivo: a fundação
apareceu na lista de pagamento de propina apreendida no gabinete de
Maurício Marinho, o ex-diretor dos Correios flagrado em 2005 embolsando
3 000 reais a mando do PTB. Foi o estopim do escândalo do mensalão.A
estatal sempre sustentou que, antes da escolha da Cesgranrio, fez
cotação de preços com nove entidades. Apresentando documentos ao MP, os
Correios afirmaram em várias reuniões que mandaram o pedido de proposta
por e-mail à UnB. A universidade revolveu a caixa de mensagens do setor
responsável pelos concursos e disse à procuradora não ter recebido
qualquer mensagem. Observa a procuradora:– O responsável por um concurso desse porte poderia ao menos ter checado o recebimento do e-mail.Diante
das suspeitas, Raquel recomendou no dia 15 de setembro ao presidente da
estatal, David de Mattos, a anulação do contrato com a Cesgranrio.
Sugeriu a Mattos, indicado ao cargo por Erenice Guerra, a abertura de
nova concorrência pública.Depois da sugestão, a procuradora
reuniu-se duas vezes com representantes da cúpula dos Correios, que, de
modo geral, não queriam rever o acerto com a fundação. Por essa razão,
ela recorreu cinco dias depois à Justiça para cancelar a contratação –
e obteve sucesso. A estatal vai recorrer.Esta tarde, Raquel
apresentou novas recomendações aos Correios: anulação do concurso,
devolução das taxas de inscrição e o lançamento de uma licitação para a
escolha da entidade que aplicará as provas. É esperar para saber se o
MP será novamente ignorado. |