Itacaré, cidade do Litoral Sul da Bahia reconhecida por suas belezas naturais e disputado paraíso do “trade turístico” brasileiro, abriga até sábado (5), no Centro Cultural Porto de Trás, o I Festival Cultural Quilombola do município. O evento, que atraiu lideranças quilombolas de toda a região, reúne já em sua primeira edição, vários representantes das esferas municipal, estadual e federal.
“Este país tem uma dívida com as comunidades quilombolas de mais de 500 anos. Temos cerca de 3 mil comunidades no Brasil, destas, somente 207, possuem títulos de terra. Queremos mostrar nossa história, nosso povo e ter os títulos de terra e não fazendeiros em nosso território”, destacou, durante o início das atividades do festival, o presidente do Conselho Quilombola de Itacaré, Aquis José dos Santos.
O encontro, que tem o apoio da Coordenação de Povos e Comunidades Tradicionais do Projeto Quilombolas, da Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa da Sedir, tem como objetivo promover a cultura das comunidades remanescentes quilombolas, valorizar e resgatar a história dessas populações, viabilizando o diálogo entre as comunidades e o poder público para atendimento de suas demandas.
“Os quilombolas de Itacaré estão vivendo um momento especial com representantes dos governos federal, estadual e municipal, e as comunidades organizadas com demandas claras e disposição para fazer diferença, construir. É nessa direção que temos que avançar”, ressaltou o diretor executivo da CAR, José Vivaldo Mendonça.
Para Mendonça, o festival é mais um passo importante para o fortalecimento das políticas públicas que vêm sendo desenvolvidas para essas comunidades no estado. “Nessa nova operação que a CAR está fazendo com o Banco Mundial, as comunidades quilombolas terão recursos assegurados para os próximos cinco anos. Estamos desenhando o Bahia Quilombola e é preciso que haja uma rede articulada com os conselhos municipais, conectados ao colegiado territorial e ao estadual”.
A representante da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), Maria do Socorro Gutierres, disse que o festival representa o fortalecimento da identidade cultural e étnica quilombola. “Esse encontro nos faz ser fortes para enfrentar tantos desafios diante do racismo. Esses espaços têm esse objetivo de fortalecer, isso se fazia no passado nos encontros de quilombos, nas grandes rodas”.
Programação
A programação contou com palestras sobre o Programa Brasil Quilombola e Políticas Públicas para Quilombolas , com mostra do trabalho desenvolvido pela Fundação Palmares. Os quilombolas participaram também de um debate sobre políticas públicas com discussões sobre temas como Infraestrutura, Produção, Educação e Cultura. No final da tarde, aconteceu a Assembléia Geral das Lideranças Quilombolas, com plenária e elaboração da Carta ao Poder Público.
Na programação, teve também um cortejo cultural e desfile das manifestações quilombolas do Centro Cultural até a Praça São Miguel. Já na Praça São Miguel, foi exibido um documentário sobre os anciões e líderes quilombolas, além de ocorrer exposições de fotos retratando as comunidades, pessoas, modos de trabalho e alimentação, e mostra de telas de artistas quilombolas.
No sábado (5), o festival trará a Feira de Economia Solidária Quilombola, na Praça São Miguel, onde serão mostrados o artesanato, culinária e medicina alternativa quilombola. Além disso, acontecerão as oficinas de formação para quilombolas, das 9h às 16h, no Cinema Cultural, e oficinas de manifestações quilombolas com mostra de capoeira, artesanato e samba de roda.
O festival tem como parceiros e apoiadores o ITI – Instituto de Turismo de Itacaré, a Associação Embaúba, o Centro Publico de Economia Solidária (CESOL), a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), a Prefeitura de Itacaré e as secretarias municipais de Turismo, de Cultura e de Educação de Itacaré.
Integram também as parcerias a Fundação Cultural Palmares, a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), o Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (SEBRAE), o CEPLAC – Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (CEPLAC) e empresários de Itacaré.
O evento foi organizado pelo Conselho Quilombola de Itacaré e pelas comunidades do João Rodrigues, do Fojo, de Santo Amaro, Porto de Trás e Serra de Água.
Fonte: Guta Barros |