
Mais de duas
mil pessoas se reuniram em uma caminhada pela paz na tarde deste domingo (13),
no bairro da Barra. Parentes, amigos e pessoas que sequer conheciam os irmãos
Emanuel, 21 anos, e Emanuelle Gomes, 23, participaram ontem da passeata entre o
Farol da Barra e Ondina, onde morreram as vítimas. A mãe dos irmãos,
visivelmente emocionada, foi amparada por amigos durante todo o trajeto.
"É um sentimento de dor, de dilaceramento, de sentimento que não tem
como expressar... De mãe que foi morta aos poucos", desabafou Marinubia
Gomes em entrevista à TV Bahia. "E acima de tudo [um sentimento] de
revolta porque isso acontece todo dia, e amanhã o trânsito vai continuar assim.
Todo mundo sabe que ele deu um toque no vidro e falou assim 'ei, você me
ultrapassou' e ela perseguir e matar meus filhos..." Na última sexta-feira, a
motocicleta em que estavam foi atingida pelo carro dirigido pela médica Kátia
Vargas Leal Pereira, 45. Segundo a Polícia Militar, o ato reuniu duas mil
pessoas, que foram prestar solidariedade à família e cobrar justiça. A partir
dos depoimentos de testemunhas e das imagens de câmaras de segurança, a Polícia
Civil vai indiciar a médica por homicídio com dolo eventual (quando se assume o
risco de matar).
"Eu mando
esse recado a essa pessoa que diz que é médica... médica que tira vida... Eu
peço que ela reflita o que ela fez", disse Marinubia. "Quem vai dizer
se ela fica presa, quem vai dizer se ela fica solta é a Justiça. Mas eu peço
que ela faça uma reflexão, ela tirou a vida de Emanuel e Emanuelle, meus dois
pintinhos... ". 
A namorada de
Emanuel, Mainá Schirnhofer, 20 anos, também buscava
compreender a tragédia: "Eu queria ele de volta, mas como não tem
como, a gente só pede justiça", disse. Participaram do protesto
cerca de 200 motociclistas e pelo menos 100 surfistas que pegavam onda com
Emanuel na praia da Barra. "Era
um filho perfeito, não tinha problemas com bebida ou cigarro, só queria saber
da natureza”, lembrou a mãe. O policial militar Rondinelle Barbosa, o primeiro
a chegar ao local do crime na sexta, foi dar um abraço em Marinúbia. Ele lembra
que, imediatamente após o ocorrido, diversas pessoas se apresentaram como
testemunhas para relatar a discussão que a médica teve com o Emanuel momentos
antes de seu carro, um Kia Sorrento, atingir a moto.
"Ao
perceber que se tratava de um crime, tentei preservar o máximo a cena do crime.
Só quando cheguei em casa é que a ficha caiu, não consegui dormir”, recordou o
PM. 
O ato acabou com os
manifestantes de mãos dadas rezando um pai-nosso em frente ao poste em que a
moto colidiu. No local, foram depositadas flores e cartazes em memória das
vítimas. O CORREIO não conseguiu contato com o advogado de Kátia, Vivaldo
Amaral — durante todo o dia, o celular estava desligado. A médica permanece internada
no Hospital Aliança sob custódia policial.
Discussão O acidente ocorreu por volta de 8h desta
sexta-feira (11). Emanuel, que completaria 22 anos na terça-feira (15),
trabalhava como modelo, assim como a irmã, que também cursava Direito. Ele
levava a irmã ao aeroporto. 
Antes de bater no poste, a
moto em que a dupla estava, uma Yamaha XTZ (placa NTQ-8040), foi atingida por
um Kia Sorento branco (placa NZK-6668), guiado pela médica oftalmologista Kátia
Vargas. De acordo com a delegada Jussara Souza, titular da 7ª Delegacia, a
médica será indiciada por homicídio com dolo eventual (quando se assume o risco
de matar alguém).
A delegada se
baseia em imagens de câmeras de segurança que filmaram o acidente. Segundo
Jussara, a médica dirigia em alta velocidade, o que provocou uma discussão com
Emanuel, que chegou a bater com o capacete no capô do Sorento. Em seguida,
ainda de acordo com a delegada, Kátia saiu em perseguição à moto, o que acabou
gerando um toque. Então, Emanuel perdeu o controle e terminou batendo direto no
poste. Ele e irmã morreram na hora. 
Imagens
As imagens analisadas pela delegada
confirmam o depoimento de quem viu o acidente. De acordo com testemunhas, a
motocicleta havia sido fechada pelo Sorento na esquina da Rua do Escravo Miguel
com a Avenida Oceânica, antes mesmo da primeira colisão. O
lavador de carros Maurício França de Jesus assistiu à cena. Segundo ele, após a
fechada, Emanuel e Kátia discutiram. "Ela fechou a moto, daí começaram a
discutir. Ela deixou ele acelerar e depois bateu nele por trás. Depois ela saiu
bambeando com o carro e bateu”, disse Maurício. Sem
se identificar, um taxista disse que ambos furaram o sinal em alta velocidade.
"Ele bateu no capô do carro, na certa para dizer que ela estava errada, e ela
acelerou. Pelo visto, ela perdeu o controle, pegou na moto e eles foram direto
no poste”. Funcionários
do Ondina Apart Hotel, também pedindo anonimato, contaram que Kátia chegou a
entrar na contramão depois que a moto bateu no poste. "Ela jogou o carro na
contramão, ia bater com outro carro, então fez a volta e jogou o carro em cima
da calçada”, contou um funcionário. Segundo ele, a médica frequentava uma
academia no apart.
O
aposentado Antônio Tabajara, 72 anos, que costuma sentar diariamente em
frente ao portão onde Kátia bateu, disse que escapou por pouco. "Eu ouvi a
pancada, mas não tive perna para levantar. Por pouco, não fui atingido”,
contou. Segundo Tabajara, a médica saiu do carro andando e demonstrava estar
muito nervosa. Fonte: Correio |