Vida fácil? É ruim!" O desabafo é da
goianiense V.R.B., que viajou a Madri para se prostituir, sem saber que
teria que fugir para se livrar de uma rede de traficantes de mulheres.
Agora ela usa sua experiência para ajudar outras brasileiras. Aos 36
anos, V.R.B. é uma mediadora, uma espécie de assistente social de uma
das quatros ONGs espanholas que ajudam mulheres prostituídas a escaparem
das quadrilhas de exploração sexual e reintegrar-se na sociedade. Tudo
nela é sigiloso. Nome, endereço, aspecto e até mesmo o nome da ONG para
a qual trabalha. Ela está protegida pela polícia por denunciar seus
exploradores. A história dela começa em 2006, quando foi aliciada em
Goiás por conhecidos que a ofereceram um trabalho como prostituta na
Espanha com salários de R$ 9 mil ao mês. "Sonhei sim. Ganhar um
dinheirão, acertar a vida da minha mãe, dar um futuro para meus (dois)
filhos e voltar para montar um negócio no Brasil. Eu aceitei. Mas não me
disseram que eu não podia sair quando quisesse", contou à BBC Brasil.
Fuga Sair significava não só largar a
rede, mas dar qualquer passo sozinha fora do prostíbulo onde morava e
trabalhava com outras 17 mulheres. "Só podia falar no telefone vigiada,
andar na rua vigiada, trabalhando de domingo a domingo...controlada o
tempo todo." A quadrilha que a cooptou a revendeu primeiro a um
prostíbulo da Galícia. Em seguida foi para a Catalunha, Valencia,
Cantábria, Andaluzia e Extremadura, num total de 42 lugares no
território espanhol, pelo que lembra. Em 2008, V.R.B. conseguiu
escapar, com a ajuda de um cliente, pela garagem do prostíbulo. Foi
perseguida, ameaçada de morte por telefone e hoje mora refugiada em uma
casa subvencionada por uma ONG. "Para mim foi a fuga do inferno.
Fui tratada por psicólogas durante quase três anos e me convenci de que
tenho que ajudar outras mulheres porque entrar é fácil, mas sair só com
ajuda mesmo. Senão, não sai, não. A pessoa morre antes."O trabalho de
V.R.B. é fazer contato com outras brasileiras prostituídas, contando sua
experiência e oferecendo ajuda às que quiserem deixar as redes. "Somos
três brasileiras numa equipe de 11 e encontramos muitas barreiras porque
as meninas têm muito medo. Primeiro dizem que não são vítimas, depois
contam que as famílias dependem desse dinheiro e não sabem o que elas
fazem aqui", diz. Segundo as ONGs Apramp, Médicos do Mundo e
Projeto Esperança, as mulheres resgatadas de exploradores sexuais são
geralmente encontradas desnutridas, com transtornos psicológicos,
fobias, depressão, infecções, marcas de violência, viciadas em drogas e
em estado de confusão mental. Após receber tratamento
psicológico, a maior parte das estrangeiras não volta a seus países de
origem por vergonha, medo de que família e vizinhos saibam de seu
passado ou por causa do envolvimento de algum parente em sua captação.
Elas preferem manter a mentira que contaram para os familiares: que se
casaram com estrangeiros e levam uma vida de luxo no exterior. Fonte: IG
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