 As alterações de humor, irritabilidade, comprometimento da
capacidade de memória e aprendizado são algumas das consequências das
noites mal dormidas. No entanto, muitas pessoas não conseguem associar
suas queixas à qualidade do sono, que podem ser diagnosticadas como
distúrbios. De acordo com a médica Thaís Rodrigues Villa, especialista
da Sociedade Brasileira de Cefaleia, insônia é um dos distúrbios do sono
mais comuns, principalmente em mulheres adultas, e após os 50 anos de
idade. A sonolência diurna excessiva, o bruxismo, o ronco e apneia do
sono também são outros distúrbios de sono comuns na população. Dormir
bem traz mais produtividade e disposição para o dia a dia das pessoas.
Contudo, o bom sono se tornou um desafio. As inúmeras atividades
desempenhadas durante todo o dia, as horas gastas no transito e a
correria do dia a dia implicam na redução das horas reservadas para uma
boa noite de sono. Para manter o equilíbrio entre qualidade de vida,
bem-estar e saúde, são recomendadas de 7 a 8 horas de sono por dia. "40%
da população mundial apresentam algum tipo de distúrbio do sono”,
afirma Thaís Rodrigues Villa, neurologista membro da Sociedade
Brasileira de Cefaleia. Além dos problemas com o sono, quem
passa mais de 15 dias por mês com dor de cabeça, há mais de três meses,
deve ficar atento. Isso pode indicar cefaleia crônica, diagnosticada em
6% da população brasileira, sendo as mais comuns a enxaqueca crônica e a
cefaleia do tipo tensional crônica. Uma pesquisa
desenvolvida por cientistas na University of Bologna, na Itália, aponta
que há relação entre as constantes dores de cabeças e as queixas de
sono. Entre os pacientes com dor de cabeça crônica
analisados no estudo, 67,7% apresentaram prevalência de insônia e em
42,9% foram identificados distúrbios psiquiátricos, como ansiedade e/ou
transtornos depressivos. A identificação de distúrbios do
sono, isoladamente ou em associação com depressão e ansiedade, é
importante para impedir o agravamento das dores de cabeça em pacientes
que já sofrem com enxaqueca e cefaleia do tipo tensional. Mais
de dois terços das pessoas com cefaleia crônica apresentam transtornos
psiquiátricos, principalmente de ansiedade e de humor. Nesse contexto,
estudos investigam a associação entre a dor de cabeça crônica com a
dificuldade para dormir e os transtornos psiquiátricos. A
prevalência desses três fatores associados pode ser atribuída ao aumento
da idade, principalmente em mulheres, nível de educação e baixa renda.
Além disso, indivíduos com múltiplos sintomas também demonstram pior
saúde mental e qualidade de vida. Para a neurologista Thaís
Villa, as cefaleias primárias e os distúrbios do sono costumam ser
comorbidades, são sintomas ou doenças que ocorrem frequentemente no
mesmo indivíduo, pois possuem mecanismos fisiopatológicos comuns. "E
isso gera um círculo vicioso à medida que pacientes com cefaleias tem um
sono pior e, consequentemente, noites mal dormidas também aumentam as
crises de dor de cabeça,” reforça. O sono durante as crises
de dor de cabeça pode aliviar os sintomas, porém a privação de sono
tende a agravar a cefaleia. Dessa forma, esses pacientes precisam de um
atendimento individualizado e cuidadoso que investigue os distúrbios do
sono e psiquiátricos, os quais podem estar associados ao diagnóstico das
cefaleias.
|