O secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame,
afirmou em entrevista coletiva na noite deste domingo que as forças de
segurança superaram a "invencibilidade" dos traficantes do Complexo do
Alemão. Com "o coração do mal do Rio" dominado, as autoridades passam a
mirar a invasão em outras favelas. Beltrame afirmou que o Rio de
Janeiro tem serviço de inteligência e que "se chegamos ao Alemão, vamos
chegar à Rocinha e ao Vidigal".
"Além de conseguirmos o objetivo de tomar o território, se
derrubou uma crença de invencibilidade", afirmou Beltrame, resumindo a
operação que de acordo a assessoria da Secretaria de Segurança,
apreendeu neste domingo cerca de 40 toneladas de maconha e 50 fuzis.
Além disso, foram presas 20 pessoas, com 15 traficantes detidos.
No entanto, o secretário de Segurança afirmou que o trabalho
não terminou. "Não vencemos a guerra, vencemos a mais importante e
difícil batalha. Tem muito o que se fazer, mas demos um passo muito
importante", disse Beltrame. "Nós não resolvemos todos os problemas, a
caminhada ainda é muito grande. Mas demos passos muito importantes".
Somente a Polícia Civil apreendeu, no Complexo do Alemão, 13 t
de maconha, 200 kg de cocaína, 10 kg de crack, 9 metralhadoras e mais
de 10 mil munições de vários calibres. O números exatos do resultado da
operação devem ser divulgados na segunda-feira
Angelo Joia, superintendente da Polícia Federal, disse que os
agentes continuarão auxiliando o trabalho no Rio. "Vamos seguir na
busca de uma sociedade mais traquila e livre das ações desses
criminosos"
"O apoio da Marinha do Exército e do Estado foi fundamental
para o sucesso da operação. Com a união das três forças chegamos ao
final com a certeza de termos conseguido recuperar a autoridade do
Estado sobre uma área do seu território", falou Adriano Pereira Júnior,
comandante do Exército
Violência
Os ataques tiveram início na tarde de domingo,
dia 21, quando seis homens armados com fuzis abordaram três veículos
por volta das 13h na Linha Vermelha, na altura da rodovia Washington
Luis. Eles assaltaram os donos dos veículos e incendiaram dois destes
carros, abandonando o terceiro. Enquanto fugia, o grupo atacou um carro
oficial do Comando da Aeronáutica (Comaer).
Cartas divulgadas pela imprensa na segunda-feira levantaram a
hipótese de que o ataque teria sido orquestrado por líderes de facções
criminosas que estão no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O
governo do Rio afirmou que há informações dos serviços de inteligência
que levam a crer no plano de ataque, mas que não há nada confirmado.
Na terça, todo efetivo policial do Rio foi colocado nas ruas
para combater os ataques e foi pedido o apoio da Polícia Rodoviária
Federal (PRF) para fiscalizar as estradas. Ao longo da semana, Marinha,
Exército e Polícia Federal passaram a integrar as forças de segurança
para combater a onda de violência.
Desde o início dos ataques, o governo do Estado transferiu 18
presidiários acusados de liderar a onda de ataques para o Presídio
Federal de Catanduvas, no Paraná. Os traficantes Marcinho VP, Elias
Maluco e mais onze presidiários que estavam na penitenciária de
Catanduvas foram transferidos para o Presídio Federal de Porto Velho,
em Rondônia.
Na quinta-feira, 200 policiais do Batalhão de Operações
Especiais (Bope) entraram na vila Cruzeiro, no Complexo da Penha.
Muitos traficantes fugiram para o Complexo do Alemão. O sábado foi
marcado pelo cerco ao Complexo do Alemão. À tarde, venceu o prazo dado
pela Polícia Militar para os traficantes se entregarem. Dentre os
poucos que se apresentaram, está Diego Raimundo da Silva dos Santos,
conhecido como Mister M, que foi convencido pela mãe e por pastores a
se entregar. Na manhã de domingo, as forças efetuaram a ocupação do
complexo.
Desde o início dos ataques, pelo menos 38 pessoas morreram em confrontos no Rio de Janeiro e 181 veículos foram incendiados.