Um jovem de 28 anos chega ao centro de emergência do hospital da Universidade da Florida, nos Estados Unidos, apresentando 130 batimentos cardíacos por minuto. É alto demais. Um eletrocardiograma revela que ele está com fibrilação atrial, um tipo de distúrbio no ritmo cardíaco associado à ocorrência de acidente vascular cerebral e morte súbita. Uma investigação mais apurada revela que a causa foi o consumo diário de uma bebida energética, junto com duas ou três cervejas.
O caso foi relatado na última semana na revista da Sociedade Americana de Medicina da Adição. O paciente contou que tomava rotineiramente duas latas de um energético. Passado um ano de acompanhamento, sem o consumo do produto, a arritmia havia desaparecido. “A ingestão da bebida teve papel chave para o surgimento do distúrbio”, afirmou a médica Maryam Sattari. Médicos que atendem em prontos-socorros estão habituados a atender jovens, principalmente, com sintomas relacionados ao consumo dessas bebidas. “Chegam com palpitações, agitação, taquicardia”, diz o cardiologista e nutrólogo Daniel Magnoni, do Hospital do Coração, São Paulo.
PAIS PREOCUPADOS
O principal ingrediente dos energéticos é a cafeína, composto ao qual se atribui boa parte dos sintomas. Recentemente, uma revisão de estudos publicada na revista científica “Pediatrics” deixou pais e médicos em alerta ao concluir que muitos dos compostos da bebida eram pouco ou nada estudados e que o risco de sérios efeitos adversos obrigava a uma maior investigação e vigilância em relação ao seu consumo. “As bebidas não têm o efeito que prometem e podem expor a maior perigo pessoas com predisposição a complicações”, diz Magnoni.
A Associação Brasileira de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas refuta as afirmações. “Segundo parecer da European Food Safety Authority, maior autoridade em segurança alimentar da Europa, o consumo moderado de cafeína (menor ou igual a 400mg/dia) não interfere na saúde cardiovascular, não aumenta a frequência cardíaca, tampouco agrava arritmias cardíacas pré-existentes e não está associado com o risco de acidente vascular cerebral”, diz, em nota. A entidade também argumenta que, em média, uma lata de energético de 250 ml possui 80 mg de cafeína, a mesma quantidade encontrada em uma xícara de café coado.
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