A presidente Dilma Rousseff
justificou no Diário Oficial da União desta segunda-feira (28) os vetos
parciais e modificações feitas no Código Florestal alegando
"contrariedade ao interesse público e inconstitucionalidade” no projeto
aprovado na Câmara. Junto com o texto da lei ambiental, foi publicada
ainda a Medida Provisória (MP) que torna mais rígidas as regras do novo
Código Florestal. A medida visa suprir os vácuos deixados com os 12
vetos da presidente Dilma Rousseff ao novo código. Além dos vetos, o
governo fez 32 modificações ao texto. Dilma vetou os artigos 1º, 43º,
61º, 76º e 77º e realizou vetos parciais em parágrafos e incisos dos
artigos 3º, 4º, 5º e 26º. Os vetos e a Medida Provisória terão de passar
pela análise dos parlamentares. Os vetos só podem ser colocados em
pauta pelo presidente do Congresso. Para derrubá-los, é necessário o
apoio de 2/3 dos parlamentares. Já a MP tem até quatro meses para ser
votada, sem perder a validade. Se aprovada, vai ao Senado e, caso
alterada, volta para a análise dos deputados. Descanso dos solos
Dilma vetou o inciso XI do artigo 3º, que trata sobre o pousio, prática
de interrupção temporária de atividades agropecuárias para recuperar a
capacidade de uso dos solos. Segundo a justificativa da presidência, o
inciso não estabelece um período de descanso da terra. Essa ausência,
segundo o texto do DO, impede fiscalização efetiva sobre a prática de
descanso do solo.
Apicuns, salgados e zonas úmidas
O parágrafo 3º do artigo 4º também foi vetado, segundo o Diário
Oficial. A regra não considerava apicuns e salgados (planícies salinas
encontradas no litoral que são continuidade dos mangues) como Áreas de
Preservação Permanente (APPs), e excluía ainda as zonas úmidas.
O texto da Câmara passava a considerar margem natural de rios a partir
da borda da calha do leito regular (fio de água) e não mais o nível mais
alto dos cursos d’água (zonas consideradas úmidas, mas que ficam
inundadas nos períodos de cheia).
Segundo Dilma isso afetaria os serviços ecossistêmicos de proteção a
criadouros de peixes marinhos ou estuarinos, bem como crustáceos e
outras espécies.
Recomposição de bacias hidrográficas
No artigo 43, sobre a recuperação de Áreas de Preservação Permanente
para empresas concessionárias de serviço de abastecimento de água e de
geração de energia hidrelétrica, o veto se deu pois "o dispositivo impõe
o dever de recuperar APPs em toda bacia hidrográfica em que se localiza
o empreendimento e não apenas na área no qual este está instalado”. De
acordo com o veto, "trata-se de obrigação desproporcional". Recuperação das margens de rios
No artigo 61, que trata das regras de recomposição da vegetação nas
beiras de rio, e que levantou polêmica no Congresso devido à
possibilidade de anistia a quem desmatou antes de 22 de julho de 2008, o
veto foi feito "devido à redação imprecisa e vaga, contrariando o
interesse público e causando grande insegurança jurídica quanto à sua
aplicação”. De acordo com
a publicação no Diário Oficial, o dispositivo "parece conceder uma
ampla anistia” a quem desmatou de forma ilegal até 22 de julho de 2008. A
justificativa da presidente Dilma afirma ainda que tal fato "elimina a
possibilidade de recomposição de uma porção relevante da vegetação do
país”. Sobre a
recomposição das margens de rios, a justificativa da presidente informa
que ao incluir regras apenas para rios com até dez metros de largura,
"silenciando sobre os rios de outras dimensões e outras APPs”, o texto
do projeto da Câmara deixaria uma "grande incerteza” aos produtores
brasileiros. O despacho
informa ainda que o texto da Câmara não levou em conta a desigualdade
fundiária do país para estabelecer o tamanho das áreas para
reflorestamento e informa dado do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), apontando que 90% dos estabelecimentos rurais
possuem até quatro módulos fiscais e ocupam apenas 24% da área rural do
país. Conservação dos biomas brasileiros
No artigo 76, sobre a criação de projeto de conservação e regeneração
dos biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado, Dilma vetou
alegando que o dispositivo fere o princípio da separação dos Poderes ao
firmar prazo para que o Chefe do Executivo encaminhe ao Congresso
Nacional proposição legislativa. No projeto da Câmara, previa-se que o
governo teria prazo de três anos, a partir da publicação da lei, para
elaborar proposta. Impacto de empreendimentos no meio ambiente
Sobre a criação de um instrumento de apreciação do poder público para
medir possíveis impactos ambientais na instalação de obras, denominado
"Diretrizes de Ocupação do Imóvel”, apresentado no artigo 77 do projeto
da Câmara, Dilma vetou alegando que o dispositivo foi aprovado sem que
houvesse definição sobre seu conteúdo o que poderia causar "insegurança
jurídica para os empreendedores públicos e privados”.
Fonte: Voz da Bahia
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