A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu, no fim da tarde desta
quinta-feira (29), o inquérito sobre o desaparecimento de Eliza
Samudio. Segundo nota publicada pela assessoria de imprensa da
corporação, o inquérito tem oito volumes, com cerca de 1.600 páginas e
três anexos. O documento deverá ser encaminhado ao Ministério Público
Estadual na sexta-feira (30).
O goleiro Bruno de Souza foi indiciado por homicídio, sequestro e
cárcere privado, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e
corrupção de menores. De acordo com a polícia, devem responder pelos
mesmos crimes Luiz Henrique Ferreira Romão (conhecido como Macarrão),
Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, Dayanne Souza
(mulher de Bruno), Elenilson Vitor da Silva, Sérgio Rosa Sales (primo
do atleta) e Fernanda Gomes de Castro (amante do goleiro). A polícia disse que o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos,
conhecido como Bola e Paulista, foi indiciado por homicídio
qualificado, formação de quadrilha e ocultação de cadáver. Dos nove indiciados, Fernanda é a única que está em liberdade.
Todos os outros estão presos na Região Metropolitana de Belo Horizonte
e negam o crime.
O advogado Ércio Quaresma, que coordena a defesa de Bruno,
Macarrão, Dayanne, Flávio, Wemerson e Elenilson, disse que todos os
seus clientes negam o crime. O advogado Zanone Oliveira Junior, que
representa Bola, também diz que o ex-policial não teve participação. O advogado Marco Antônio Siqueira, que defende Sales, disse que seu
cliente foi apenas testemunha. Sales já disse, em depoimento, que viu
Eliza machucada no sítio de Bruno, em Esmeraldas (MG), e que ouviu
outros suspeitos comentarem sobre a morte da jovem.
Na semana passada, Fernanda admitiu que viajou com Bruno do Rio de
Janeiro até Minas Gerais, na época em que Eliza desapareceu. Ela disse
que Macarrão, amigo do goleiro, acompanhou o casal. Mas afirmou que não teve contato com Eliza.
Advogados comentam Frederico Franco, advogado
que trabalha com Ércio Quaresma, disse que a equipe ainda vai analisar
o inquérito e aguardar posicinamento do Ministério Público, que pode
fazer a denúncia à Justiça ou devolver o documento para a polícia.
O advogado classificou o inquérito como "natimorto". "[O inquérito]
não tem provas, vai nascer e vai morrer e todos irão para a rua.”
O advogado Zanone Oliveira Junior disse que já esperava o
indiciamento de seu cliente, Bola, e foi irônico ao comentar a
conclusão do inquérito policial. "O inquérito vai sair das mãos do
[delegado] Edson Moreira, que maravilha! Demorou para isso acontecer.
Agora a pressão vai diminuir e advogados vão parar de ser barrados na
porta do Departamento de Investigações”, afirmou o defensor.
Marco Antônio Siqueira, que representa Sérgio Rosa Sales, reafirmou
que seu cliente "não participou" dos crimes. "Eu fiquei surpreso por
ele ter sido indiciado, pois tudo o que vi no depoimento é que ele não
teve nenhuma conduta delitiva", comentou. "Continuo confiante de que
quando o promotor analisar a situação do Sérgio, ele não vai oferecer
denúncia e apenas vai aproveitá-lo como testemunha”, falou. "O
indiciamento não significa que a pessoa vai ser condenada. Cabe ao
promotor dizer qual crime a pessoa cometeu."
Em resposta aos advogados, a assessoria de imprensa da Polícia
Civil disse que o trabalho dos delegados já foi concluído e agora a
análise do inquérito deve ser feita pelo Ministério Público.
Pais de Eliza O advogado Sérgio Barros da Silva, que representa Luiz Samudio, pai de Eliza, afirmou ao G1 que
seu cliente ficou "satisfeito” com o indiciamento de Bruno e dos outros
suspeitos. "Está dentro do que esperávamos, eles [suspeitos] foram
indiciados por vários crimes. Apesar de ter todos os elementos para um
indiciamento por tortura também, já que Eliza foi espancada, não há
muitas provas. Esse caso fica a critério do Ministério Público agora,
que pode sim entender que houve tortura”, disse.
A advogada Maria Lúcia Borges Gomes, que representa Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza, disse ao G1 que sua cliente preferiu não comentar a conclusão do inquérito.
Menor O menor que foi detido na casa de
Bruno, no Rio de Janeiro, em 6 de julho, permanece em um centro de
internação provisória, em Belo Horizonte.
Ele participou de uma audiência de instrução, na semana passada, no
Juizado da Infância e da Juventude de Contagem (MG). De acordo com o
advogado Eliézer Jônatas de Almeida Lima, que representa o adolescente,
o promotor Leonardo Barreto Moreira Alves pediu a internação do menor,
alegando envolvimento em atos infracionais análogos a sequestro,
cárcere privado e homicídio.
O advogado entregou a defesa
de seu cliente ao juiz Elias Charbil, na última segunda-feira (26).
Lima argumenta que que o menor foi chamado por Macarrão apenas para
"dar um susto" em Eliza, e não sabia que se tratava de um sequestro. O
defensor disse ainda que não há provas de que a jovem foi assassinada.
A Justiça não divulgou a decisão. Questionário Mais cedo, nesta quinta-feira, os oito suspeitos presos foram levados ao Departamento de Investigações (DI), em Belo Horizonte. Dayanne foi a primeira a chegar. Pouco depois, outros nove carros
pararam na delegacia. Eles transportavam seis suspeitos que estão
presos no Complexo Penitenciário Nelson Hungria, incluindo o atleta.
Todos vestiam os uniformes da unidade prisional. Sales, que está preso
no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) de São Cristóvão, também
foi levado ao DI.
O delegado Edson Moreira disse que os suspeitos seriam "identificados criminalmente".
A assessoria da polícia informou que a identificação criminal é um
procedimento realizado normalmente quando o inquérito vai ser
encerrado. Os investigadores teriam registrado fotografias e as
impressões digitais dos suspeitos.
Mas a advogada Cintia Ribeiro, representante da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB-MG) que acompanha o caso, estranhou a iniciativa. "Não
existe indiciamento, então não existiria necessidade de colher essa
prova", disse ela.
Depois da confusão, a polícia disse que os suspeitos responderam a um questionário sobre a vida pregressa, com informações pessoais e sociais, como local de trabalho, renda e doenças crônicas.
Os oito presos ficaram na delegacia durante seis horas. Na saída, o goleiro Bruno apareceu de visual novo. Ele teve o cabelo cortado dentro do presídio.
Entenda o caso Nascida em Foz do Iguaçu (PR),
Eliza Samudio se mudou para São Paulo e posteriormente para o Rio. Em
2009, teve um relacionamento com o goleiro Bruno, engravidou e afirmou
que o pai de seu filho é o atleta. O bebê nasceu no início de 2010 e,
agora, está com a mãe da jovem, em Mato Grosso do Sul.
A polícia mineira começou a investigar o sumiço de Eliza em 24 de
junho, depois de receber denúncias de que uma mulher foi agredida e
morta perto do sítio de Bruno.
A jovem falou pela última vez com parentes e amigas no início de junho.
O corpo de Eliza não foi encontrado. Mas os delegados consideram a jovem morta. |