A Comissão de
Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (4) em
votação simbólica o projeto que cria o Estatuto do Nascituro, que prevê
proteção jurídica à criança ainda não nascida e garante assistência pré-natal e
acompanhamento psicológico a mulheres vítimas de estupro.
O projeto é um meio de estimular as vítimas de
violência sexual a ter o bebê caso fiquem grávidas, mas não retira do Código
Penal o artigo que autoriza o aborto em caso de estupro e em situações em que a
vida da grávida seja colocada em risco.
O texto foi apelidado por entidades feministas de
"Bolsa Estupro”, por estabelecer o benefício mensal no valor de um salário
mínimo às mães vítimas de estupro, além de uma bolsa-auxílio de três meses a
mulheres que engravidarem em decorrência de estupro e optarem por não realizar
o aborto.
O projeto ainda precisa passar pela Comissão de
Constituição e Justiça e pelo plenário da Câmara para então ser encaminhado
para o Senado.
A votação ocorreu um dia após a realização da
Marcha pela Vida em Brasília, contra o aborto, e no dia da Marcha da Família,
manifestação programada para a tarde desta quarta na Esplanada dos Ministérios,
contra o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Em lados diferentes da sala onde ocorreu a sessão,
manifestantes favoráveis e contrários à proposta levantaram cartazes de apoio e
crítica ao texto.
O projeto tem
como relator o líder do PMDB na Câmara, deputado Eduardo Cunha (RJ), integrante
da bancada evangélica.
"Esse projeto não muda a condição do aborto legal,
mas garante subsistência à mãe vítima de estupro que não quer abortar, mesmo
tendo a previsão legal”, disse Cunha.
Antes de iniciar a votação, o relator pediu que
deputados se manifestassem de acordo com a sua posição sobre o aborto.
"Queremos
que quem é a favor o aborto vote contra o meu relatório. Quem é contra o
aborto, voto com o meu relatório”, declarou o deputado.
Pensão alimentícia
O texto também determina que, se o pai da criança
(autor do estupro) for identificado, ele será obrigado a pagar pensão
alimentícia à criança.
Nos casos em que a vítima de estupro optar por não
assumir a criança após o nascimento, o bebê deverá ter prioridade para adoção.
O projeto estabelece como nascituro o ser que já
foi concebido, mas ainda não nasceu, e tipifica os crimes cometidos contra ele.
Pelo texto, o conceito de nascituro inclui os seres
humanos concebidos "in vitro” e também aqueles os produzidos por meio de
clonagem, reconhecendo a sua natureza humana com proteção jurídica pelo próprio
Estatuto do Nascituro, pela lei civil e penal.
O texto prevê
pena de seis meses a um ano para o indivíduo que referir-se ao nascituro com
palavras depreciativas ou que fizer apologia ao aborto. Também inclui pena de
um a três anos de detenção para quem causar intencionalmente a morte de
nascituro, e até dois anos de prisão por anúncio de processo ou substância que
provoquem aborto.
Divergências
Para o deputado Afonso Florence (PT-BA), autor de
voto em separado ao relatório de Cunha, o texto não poderia ser aprovado na
comissão por não estabelecer a previsão de gastos para União.
"Eu não sou favorável ao aborto. Mas a lei de
responsabilidade fiscal estipula que, se vai haver pagamento de benefícios pelo
governo, é preciso que ao menos se saiba o número de beneficiados”, disse
Florence.
A deputada Erika Kokay (PT-DF), também contrária ao
projeto, disse que o texto é inconstitucional por entrar em contradição com o
Código Penal.
"Foi um estupro em defesa dos estupradores, porque legitima algo ilícito
e fere o Código Penal ao tipificar o aborto. Ao dizer que assegura os direitos
dos nascituros, esse projeto nega a autonomia das mulheres e paga para que o
fruto do estupro se mantenha”, disse a deputada. Fonte: G1.com
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