O mototáxi foi um dos meios de transporte mais procurados durante o
último carnaval de Salvador. Imagens de foliões rumo aos circuitos da
festa na garupa de motos foram comuns, bem como as de infrações de
trânsito cometidas pelos condutores.
Embora avance na cidade a um ritmo médio de 25% por ano, segundo
estimativas do sindicato, o serviço de mototáxi é ilegal em Salvador,
pois ainda não foi regulamentado pela prefeitura. Isso significa, por
exemplo, que os mototaxistas não são cadastrados nem submetem os
veículos a inspeções obrigatórias.
Uma lei federal de 2009 regulamentou as profissões de mototaxista e
motoboy. Fixou exigências para exercício da atividade, como idade
mínima de 21 anos e de dois anos de habilitação, mas deixou a criação
de normas específicas a cargo das prefeituras.
O resultado é o avanço da clandestinidade em municípios que ainda não
criaram legislação para esse tipo de transporte, como Salvador.
Estimativa de 2009 do sindicato das empresas de ônibus apontou 2.000 a
3.000 mototaxistas em atividade na cidade, número que hoje supera
4.000, segundo o sindicato dos condutores.
"É uma quantidade imensa de mototaxistas rodando. É impossível
proibir”, afirma Henrique Balthazar, presidente do Sindmoto-Bahia, que
representa motoboys e mototaxistas no Estado. A frota de motos da
capital baiana é de 84.685 unidades. O serviço de mototáxi se concentra
em bairros populares, e cada condutor chega a fazer até 30 corridas por
dia, a uma tarifa média de R$ 2 a R$ 3 por viagem.
O vácuo legal motivou, no mês passado, uma ação do Ministério
Público da Bahia contra a Prefeitura de Salvador. A Promotoria cita
dados como 3.693 vitimas de acidentes de moto na cidade em 2009 para
pedir à Justiça que obrigue a prefeitura a fiscalizar o serviço. "O que
não pode existir é o estado de absoluta clandestinidade que existe
hoje”, afirmou a promotora Railda Suzart.
Durante o Carnaval, uma operação da prefeitura apreendeu 115
motocicletas. Segundo a Transalvador, órgão de trânsito municipal
responsável pela ação, as apreensões foram motivadas por infrações de
trânsito. A operação resultou em um protesto de mototaxistas na última
sexta-feira (11). A categoria reclamava de arbitrariedade nas
apreensões.
A Transalvador informou, por meio de assessoria de imprensa, que a
regulamentação do serviço de mototáxi na cidade ainda está em estudo. A
prioridade, afirma o órgão, é garantir a segurança de condutores e
usuários.
O tema motivou também um projeto de lei de regulamentação da
atividade proposto nesta semana na Assembleia do Estado pelo deputado
Sargento Isidório (PSC). O próprio prefeito de Salvador, João
Henrique(PP), defendeu a regularização ao afirmar à imprensa do Estado
que os mototaxistas "tiveram grande utilidade” durante o carnaval na
cidade.
Situação se repete em outras capitais
A expansão clandestina do serviço de mototáxi é um problema
nacional. Segundo a Fenamoto (Federação dos Mototaxistas e
Motofretistas do Brasil), a maior parte das capitais ainda não
regulamentou a atividade. Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Palmas (TO),
Goiânia (GO) e São Luís (MA) são exceções onde os mototaxistas já
circulam regularmente.
"A demora [na regulamentação] é normal, porque a lei é nova e todos
estão se adaptando”, afirma o presidente da Fenamoto, Robson Alves. No
entanto, uma ação direta de inconstitucionalidade movida no final de
2010 pela Procuradoria Geral da República (PGR) pode atrasar ainda mais
ou até impedir a regularização da atividade. Para a PGR, que pede ao
Supremo Tribunal Federal o fim da regulamentação da profissão de
mototaxista, a lei federal que liberou a atividade trouxe um problema
de saúde pública, ao estimular um serviço suscetível a acidentes. |