O prefeito de São Gonçalo dos Campos, Antônio Dessa Cardozo (PSD),
conhecido como "Furão”, candidato à reeleição este ano, é acusado de
promover desvio de recursos públicos que seriam destinados ao Município e
lavagem de dinheiro, por meio de notas frias emitidas pela empresa
Maderval Material de Construção. A denúncia foi feita pelo próprio dono
do estabelecimento, Gustavo Fernandes da Fonseca, que visitou a redação
do Bahia Notícias munido de farta documentação que comprovaria as
infrações, a exemplo de documentos fiscais, talões, comprovantes de
depósitos em contas bancárias e de cheques trocados. Segundo o
empresário, a fraude aconteceu entre 1º de janeiro de 2009, quando Furão
assumiu o comando da cidade, e março deste ano, quando a relação entre
os dois foi quebrada. O esquema, de acordo com Fonseca, consistia no
envio de materiais de construção da Maderval, que venceu licitação
pública, para propriedades do gestor – como as fazendas Inglaterra e
Alemanha, a residência no bairro da Pitubinha e o posto de combustíveis
–, em nome da prefeitura e das secretarias municipais de Saúde e
Educação. "A licitação pública acontece para favorecer ele. Setenta por
cento da minha licitação, o material foi fornecido para ele. Trinta por
cento para a prefeitura”, relatou Fonseca, em entrevista ao BN. Segundo
ele, tudo era assinado e carimbado pela secretária de gabinete do
prefeito, Solange Ribeiro Cancio, que chegou a requerer, em 23 de
fevereiro de 2011, itens de madeira para a sua própria casa. "Esse
material foi entregue na casa dela. Ela mesma deu recebido e assinou”,
apontou o empresário. Conforme Fonseca, o pagamento era feito em cheque
da administração local, mas, após receber o valor, ele emitia outro
cheque de igual valor em nome de pessoas indicadas por Furão. "A
prefeitura pagava a empresa, mas as notas que ele pedia eu tirava,
repassava o dinheiro para ele e os impostos ele não pagava. Eu emitia a
nota fiscal, passava para a prefeitura, ia lá, recebia o cheque e depois
emitia um da minha empresa e passava para ele. Entregava em mãos”,
narrou.
Entre os recebedores da verba estavam outros fornecedores, como a São
Gonçalo Materiais de Construção (R$ 16.998,80 em 4 de novembro de 2009),
parentes, como o sobrinho Hélio Pimenta de Oliveira Cardozo (R$ 45 mil
em 28 de junho de 2010) e até o seu filho, João Pedro Labriola Cardozo
(R$ 27.760 em 4 de agosto de 2010), à época menor de idade. "O negócio é
grande. Ele construiu uma pista de vaquejada na fazenda. Calcula-se que
ele gastou mais de R$ 300 mil só para fazer corrida de cavalo”,
projetou o denunciante. Consta ainda na documentação o pedido de
materiais, a próprio punho do prefeito, para o erguimento de cobertura
da garagem (R$ 18 mil) e do almoxarifado da prefeitura (R$ 10 mil), bem
como para reforma do telhado da sede municipal (R$ 7 mil). "Nem um pau
foi botado lá em cima”, contou Gustavo Fonseca, que se diz sido
envolvido no suposto golpe pela "amizade” que tinha ao gestor. "Ele
frequentava a minha casa, eu frequentava a casa dele, me chamava para
jantares e tal e foi indo. Desde que ele tomou posse que eu venho
participando das licitações públicas e fornecendo à prefeitura. De
repente, quando eu participei da primeira – eu nunca tinha participado
de licitação pública –, eu entrei. Além do fornecimento do material, ele
começou a solicitar notas. Eu comecei a questionar ele e ele disse:
‘não rapaz, não se preocupe que eu vou pagar os impostos’”, relatou.
Apesar disso, descreve Fonseca, ele começou a brigar com Furão pelo não
cumprimento do prometido pagamento da tributação. "Para emitir uma nota
fiscal,você tem que dar entrada, tem que ter produto. Eu fornecia a
nota, então eu tinha que comprar a mercadoria para dar a entrada e poder
dar a saída. E o custo disso aí?”, indagou, ao admitir ter falhado por
confiar na palavra do "amigo”. "Ele fez da minha empresa a casa dele. Eu
fui um idiota. Ele me iludiu tanto, aproveitou da minha boa vontade e
fidelidade a ele, que eu fiquei encurralado. Comecei a me endividar.
Hipotequei a minha casa. O banco exigiu que eu transferisse a minha casa
para o nome da empresa para liberar financiamento. Eu já estava na mão
de agiota”, revelou, ao indicar que até crédito de R$ 1 mil foi
solicitado em nome da sua loja, por meio de cupom fiscal para a
prefeitura, sem que houvesse posterior quitação. A bola de neve, segundo
o empresário, hoje está avaliada em uma dívida de aproximadamente R$
600 mil e o seu estabelecimento corre o risco de fechar as portas. "Eu
estou aqui hoje porque eu fui prejudicado. Estou em uma situação fodida,
a palavra é essa. Não ganhei um real com nada. Só fiz me endividar. E
se hoje a Receita Federal e a polícia vierem investigar, vão ver que eu
só tenho dívida, mais nada. E tenha certeza que se a policia for fazer
uma investigação profunda vai encontrar muito mais do que isso”,
apostou.
Fonseca ponderou ainda que não teme ser acusado, em um provável
inquérito, como parceiro de Furão na irregularidade. "Cabe agora à
Justiça julgar, porque eu não tenho nada. Só tenho dívida. A Justiça é
quem vai analisar quem está certo e quem está errado. Eu fui enganado.
Ele usou da minha ingenuidade. A verdade é essa. Eu quero que a Justiça
faça justiça. Somente isso”, clamou. O dono da Maderval relata que,
antes de denunciar o caso à imprensa, chegou a procurar o prefeito para
acertar as contas, mas ele desdenhou da possibilidade de a negociata ser
propagada. "Eu cheguei a ameaçá-lo: ‘Se você não pagar os impostos das
minhas notas, e me tirar da merda que você fez comigo, eu vou lhe
denunciar’. Ele virou para mim e disse: ‘você é cúmplice, então não te
devo nada’”. O empresário é filiado ao PR, mas assegura que não tem
motivações políticas ao revelar o episódio em ano eleitoral. Ele nunca
postulou cargos públicos nas urnas.
Fonte: Cleriston Silva
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