Marta
é assombrada pela filha em "Páginas da Vida": mãe controladora e fria é
característica da família não-comprometida, que leva crianças à
agressividade
Ambientes familiares pouco equilibrados prejudicam o comportamento das
crianças fora de casa. Mas um recente estudo da Universidade de
Rochester, em Nova York, procurou explicar como são estes efeitos. Os
pesquisadores dividiram as famílias infelizes em dois grupos: de um
lado, ficam as famílias frias e controladoras e, de outro, aquelas
conflituosas e intrometidas.
Nos três primeiros anos de escola, as crianças que convivem com o
primeiro grupo – as famílias frias – têm cada vez mais problemas, que
vão de comportamentos agressivos a depressão e alienação. Já o segundo
grupo – famílias intrometidas – causa ansiedade e afastamento nos
pequenos. "Famílias podem servir de apoio para crianças que entram na
escola – ou podem ser fontes de estresse, distração e comportamentos
inadequados,” declarou Melissa Sturge-Apple, coordenadora da pesquisa e
professora-assistente de psicologia da Universidade de Rochester, ao
site da instituição.
Com duração de três anos, o estudo examinou padrões em 234 lares que
tinham filhos de 6 anos de idade e identificou três perfis de famílias:
uma feliz (chamada de coesa) e duas infelizes (classificadas em
não-comprometidas ou entrosadas).
Dá para reconhecer as coesas por suas relações harmoniosas, calor
emocional e papéis firmes, porém flexíveis, para pais e crianças. Um
exemplo deste tipo de relação é a família de Lineu e Nenê no seriado "A
Grande Família”. Apesar dos problemas, eles estão sempre prontos para
ajudar os filhos e têm muito amor e respeito um pelo outro.
Famílias disfuncionaisUma família entrosada pode estar
envolvida emocionalmente e demonstrar carinho, mas também apresentar
níveis altos de hostilidade, intromissão destrutiva e pouca percepção
da família como um time. O filme "A Sogra”, com Jane Fonda e Jennifer
Lopez, mostra uma mãe que ama o filho e se sente no direito de
atrapalhar seu noivado para não perdê-lo – esta é uma família
entrosada. Durante o estudo, os filhos vindos deste tipo de família
entraram na escola com comportamentos parecidos aos de famílias coesas,
mas com o tempo passaram a apresentar níveis altos de ansiedade e
sensação de solidão e alienação.
Já as famílias não-comprometidas são marcadas por relacionamentos
frios, controladores e distantes. Um caso que ilustra este tipo de
família é o de Marta (Lília Cabral), a fria mãe de Nanda na novela
"Páginas da Vida” (2006). Ela desaprovou a gravidez da filha e rejeitou
a neta com síndrome de Down. Crianças vindas destes tipos de família
começam a vida escolar com níveis altos de agressividade e maior
dificuldade para aprender e cooperar com as regras da classe – e este
comportamento destrutivo cresce à medida em que as crianças avançam na
escola. "Frieza geralmente gera depressão, que pode ser externada com
agressividade. É como se a criança estivesse se vingando dos pais
através da escola”, explica a psicopedagoga Maria Irene Maluf.
Trabalhar em equipe
Para chegar a estas conclusões, os psicólogos analisaram como os pais
se relacionavam entre si, notando se havia agressividade e
distanciamento, e observando suas habilidades de trabalhar como uma
equipe na presença da criança. Os cientistas decodificaram a
disponibilidade emocional dos pais em relação aos filhos, se ele ou ela
elogiava e aprovava ou simplesmente ignorava os pequenos durante
atividades compartilhadas. Os observadores também perceberam como a
criança se dirigia ao pai e à mãe, notando se as tentativas de se
aproximar deles eram breves e superficiais ou sustentadas e
entusiasmadas.
Os autores do estudo enfatizam que outros fatores, além de família
desestruturada, podem levar a comportamentos problemáticos na escola.
Vizinhanças violentas, escolas despreparadas e traços genéticos também
determinam se as crianças terão ou não dificuldades no aprendizado.
|