
Stephane de Souza Brito era uma garota
"normal, do bem, sem envolvimento com tráfico, com crime, com nada”, segundo
descrição de parentes e amigos de Narandiba.
Aos 14 anos, ela ia a passeios da
igreja e frequentava o 6º ano da Escola Estadual Heitor Villa Lobos, no Cabula
VI. Mesmo assim, a vida dela foi interrompida por um tiro, por volta das 20h30
de quarta-feira, quando ela ia comprar pão.
No momento da tragédia, vizinhos se
reuniam em comemoração ao aniversário de um dos moradores da Travessa Boa
Vista, onde a garota morava. Muitas crianças brincavam em frente a uma igreja,
enquanto adultos conversavam nas imediações.
Mas Stephane não fazia parte da festa.
"Ela tinha saído para comprar pão. Estava na hora errada e no lugar errado. Eu
não suspeito de ninguém, mas isso só acontece porque o Brasil não tem lei, a
lei existe para proteger o errado”, desabafou um tio da garota, que não quis se
identificar.
O delegado Pedro Andrade, do
Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que investiga o crime,
disse que o autor dos disparos desceu de um carro prata e atirou em direção a
outros homens que estavam na festa.
Os alvos não foram identificados, mas
apenas Stephane foi atingida no rosto. Ela chegou a ser levada para o Hospital
Roberto Santos, onde deu entrada às 21h10, depois de ser socorrida por um
vizinho, mas não resistiu aos ferimentos e morreu às 21h40.
Andrade não
descarta a hipótese de que o atirador seja alguém da região. "Não descartamos
nenhuma possibilidade, mas acredito que seja um caso isolado. O bandido queria
atingir alguém em específico e a menina foi baleada por acidente. Depois de
disparar contra as pessoas, ele entrou no carro e fugiu. Algumas pessoas
disseram que o bandido mora na região, na rua do Canal” contou o delegado Pedro
Andrade.
Na manhã de ontem, amigos e vizinhos de Stephane não sabiam explicar o que
teria motivado o crime. O tio da menina mostrava as marcas dos três tiros que
foram disparados por um homem que, segundo ele, vestia a camisa do Bahia no
momento do crime: um alcançou o portão da Igreja Pentecostal Revelação da
Sabedoria Divina; o segundo atravessou a janela da Igreja Pentecostal
Missionária Misericórdia de Deus e chegou ao altar; outro atingiu Stephane que,
não teve reação para correr.
"Ela não teve
perna para correr, ficou parada. Quando ela caiu, acharam que poderia ser outra
pessoa, até a gente ver que era ela. O que revolta é que ela era inocente.
Quando a pessoa tem envolvimento (com o crime), a família já espera, mas ela
não tinha nada a ver com isso”, afirmou o tio.
Trauma
Em choque, a mãe de Stephane, Maria da Paixão Ribeiro de Souza, não se
conformava com a perda. "Minha filhinha, tão linda... Como é que uma pessoa vem
atirando sem nem olhar quem está, se é inocente ou não?”, questionava, enquanto
era amparada por amigos e familiares.
A garota era a
filha mais nova de três que a mulher teve, e a única ainda viva. O mais velho
havia falecido aos 2 anos de idade, depois de ser picado por um escorpião,
enquanto o segundo morreu após ser atropelado, há quase uma década. "A menina
não saía para lugar nenhum, a mãe vivia na cola dela e perdeu a filha desse
jeito”, contou o tio de Stephane.
Mas os moradores dizem que, apesar de ser uma área com problemas de
segurança, assassinatos não são corriqueiros – pelo menos não no local onde
Stephane foi morta.
O corpo de Stephane será velado na
capital e sepultado no cemitério da cidade de Nova Redenção, a 410 quilômetros
de Salvador, cidade de origem da família da garota. Até o fechamento desta
edição, a família não havia informado a data e horário do sepultamento.
Salvador é
capital com mais mortes de jovens no país Familiares e amigos de Stephane de Souza Brito, 14 anos — morta em
Narandiba com um tiro disparado por homens não identificados — não conheciam os
números, mas a garota faz parte de uma estatística chocante.
Segundo o Mapa da Violência de 2013,
divulgado ontem pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela),
Salvador é a capital com maior número de homicídios de jovens entre 14 e 25
anos: foram 777 mortes em 2011. Atrás vêm Fortaleza (624) e Maceió (499).
Em números relativos, a capital baiana
também se destaca com a terceira maior taxa de homicídios de jovens entre
14 e 25 anos — 164,9 homicídios por grupo de 100 mil jovens — atrás
somente de Maceió (288,1) e João Pessoa (215,1).
Apesar dos números de destaque, houve
uma melhora com relação ao número de 2010, quando foram mortos na capital
baiana 907 jovens — taxa de 193,8.
Em nota, a Secretaria de Segurança
Pública (SSP) destaca que "os crimes contra a vida tiveram uma redução de 14% em
Salvador, no acumulado de janeiro a maio de 2013, em relação ao mesmo período
do ano passado” e também uma redução de 26,3% na Região Metropolitana.
Dos 15 municípios do país que
ultrapassam a taxa de 100 homicídios por 100 mil habitantes estão Simões Filho,
o primeiro da lista nacional (167), Porto Seguro, o 12º (105,9), e Mata de São
João, o 14º (102,8).
A SSP destaca que Simões Filho teve
uma redução de 33% nos casos de Crimes Violentos Letais Intencionais na
relação entre janeiro e maio de 2012 com o mesmo período deste ano. Fonte: Correio |