Quando surgiu o Alviverde Imponente no gramado do Couto Pereira, onde a
luta o aguardava, ele sabia bem o que vinha pela frente. Um Coritiba
inflamado, empolgado, confiante, regido por fanáticos que se orgulham em
chamar de "inferno verde” o ambiente criado para receber os rivais. Mas
hoje o céu também é verde, no tom que estampa os corações de uma
torcida que canta e vibra. O Palmeiras soube mostrar que, de fato, é
campeão. É campeão de novo. É campeão da Copa do Brasil!
O empate por 1 a 1 com o Coritiba, com gol de Betinho, que provocou
piadinhas e críticas até mesmo dentro do clube quando foi contratado,
consagrou um time que teve de tudo, menos a famosa "sorte de campeão".
Teve o artilheiro Barcos fora das finais por crise de apendicite, o
criativo Valdivia expulso no primeiro jogo, o bravo Henrique febril no
segundo e ainda perdeu, no primeiro tempo do Couto Pereira, Thiago
Heleno por lesão.
Mas o Palmeiras teve raça, disposição, jogadores empenhados em colocar
novamente nos rostos de seus torcedores o orgulho na hora de encarar os
rivais nas ruas depois de quatro anos sem títulos, desde o Campeonato
Paulista de 2008. Fatores capazes de superar as limitações de um time
que não vai se eternizar na galeria dos grandes esquadrões, mas estará,
para sempre, na lista de campeões no Palestra. Lista que volta a
destacar o bicampeão Luiz Felipe Scolari. Era ele o técnico no primeiro
título da Copa do Brasil, em 1998. É ele o técnico no segundo. Mais
velho, mais ranzinza, menos tolerante até mesmo com seus patrões, mas
ainda um vencedor. E foi o quarto título do treinador na competição -
além do Verdão, levantou a taça com Criciúma (1991) e Grêmio (1994). O
Verdão também se torna o time com o maior número de títulos nacionais,
com dez (duas Copas do Brasil e oito brasileiros, contando com os
torneios unificados pela CBF).
O Coritiba perdeu a sua segunda final consecutiva (em 2011 foi
derrotado pelo Vasco), mas se estabeleceu como um grande, uma equipe que
se impõe diante de sua torcida e passa a ser mais respeitada em
qualquer competição. Resta saber se a diretoria terá a paciência e a
disposição para manter o trabalho, assim como no ano passado.
Ao time paranaense restam o Campeonato Brasileiro e a Copa
Sul-Americana. O Palmeiras também tem as duas competições pela frente,
mas com o alívio de estar garantido na Taça Libertadores de 2012. Algo
muito, muito importante, principalmente porque o outro brasileiro que já
carimbou vaga é o Corinthians, arquirrival e atual campeão. Título e
classificação que podem fazer a equipe navegar em mares calmos, algo
raro ultimamente.
Rafinha contra a 'rapa'
Parecia uma regra da final: o Coritiba só podia jogar por onde estava
Rafinha. E o arisco camisa 7 começou pelo lado direito, onde logo
conseguiu que seu marcador, Juninho, levasse cartão amarelo. Mas ser
dependente de Rafinha não é bom sinal. Isso ficou evidente quando ele se
jogou na entrada da área e também foi advertido pelo árbitro Sandro
Meira Ricci, e quando justamente em seu lado o Palmeiras começou a
dominar a partida.
Juninho e Mazinho foram grandes, apesar dos nomes. Tabelaram,
triangularam quando Henrique ou Betinho se aproximaram, e criaram
chances que fizeram time e torcida do Coxa baixarem a bola. Um silêncio
quase sepulcral quando Betinho, livre, finalizou para fora após
cruzamento de Marcos Assunção. Sempre os cruzamentos do capitão... Eles
voltariam no segundo tempo.
Rafinha mudou de lado, foi para onde o campo estava em piores
condições. E parecia que o Verdão do Paraná só chegaria com perigo se o
Verdão de São Paulo errasse. Foi o que Thiago Heleno fez. Bobeou feio à
frente de Everton Costa, atacante perigoso, "chato" para os zagueiros,
mas sem faro de artilheiro. Ele rolou para Rafinha, que deu o maior
susto em Bruno. O chute de pé esquerdo passou muito perto.
Betinho: o herói da vez
Marcelo Oliveira voltou do intervalo com Ayrton, um lateral mais
ofensivo, no lugar de Jonas. Pediu que sua equipe jogasse mais bola.
Atitude o Coritiba até teve. Povoou o campo de ataque, explorou os
avanços de Rafinha pela direita e fez a bola chegar mais à grande área
do Palmeiras. Mas faltava qualidade técnica, que o técnico tentou ganhar
com a entrada de Lincoln no lugar do volante Sergio Manoel.
Ayrton e Lincoln. E Marcelo, que havia errado nas substituições nos
últimos jogos, mostrou o resultado de conhecer bem seu grupo. O meia
sofreu falta, e o lateral bateu com perfeição, rente à trave. Gritou,
mostrou o símbolo aos torcedores, quase arrancou a camisa. E deu o
recado para os palmeirenses: "Ainda tem jogo!".
Tem mesmo? Falta para o Palmeiras na entrada da área logo depois. Muita
reclamação do Coritiba. Dá para entender... Passou um filme na cabeça
de milhares de pessoas na arquibancada. Quantos gols esse time de camisa
verde já fez dessa forma? Um filme de terror para os anfitriões, uma
deliciosa comédia para os visitantes. Um filme cujo protagonista é
Marcos Assunção, e o coadjuvante se reveza. No mais importante de todos
os gols de bola parada da segunda era Felipão, foi Betinho quem tirou o
grito preso há tanto tempo na garganta, no peito e no coração dos
palmeirenses.
O Coritiba, por obrigação, colocou mais um atacante e passou a tentar e
correr mais. Mas no fundo, todos sabiam que quem sofreu tanto para
fazer um golzinho não conseguiria fazer três em pouco mais de 25
minutos. Ainda mais na "defesa que ninguém passa". O relógio passou a
ser o principal personagem da atração que teve início na vitória por 2 a
0 na Arena Barueri. Os últimos minutos já se transformaram no início da
festa. Luan, que disputou machucado o fim da partida, e Felipão tiveram
seus nomes gritados. O que não faz um título...
Em meio aos torcedores, o suspenso Valdivia, o operado Barcos e o santo
aposentado Marcos pareciam cidadãos normais, como esses palmeirenses
que vão sair de casa nesta quinta-feira sem medo de cruzar com um amigo
torcedor de outro time. Sem terem que mudar de assunto quando começarem a
falar de futebol. E com um sorriso largo, do tamanho da futura Arena
Palestra. Sorriso de campeão. |