
No lugar das bonecas e das brincadeiras de
crianças, uma menina de 12 anos vai dar lugar à maternidade. Grávida de seis
meses, a jovem identificada com o nome fictício de Rosa teve relações sexuais
com o primo, que também tem 12 anos. "Eles foram criados juntos. Sempre
brincaram e jamais imaginávamos que isso pudesse acontecer. As mães do dois são
viúvas, têm outros filhos e deixavam os dois com os mais velhos para trabalhar
e sustentar a família. Nem acreditamos quando a gente soube do bebê",
contou à reportagem do Bocão
News a tia da criança, Luzimarina Chavier dos Santos, que está
cuidando da sobrinha.Segundo Luzimarina, Rosa é da cidade de Sátiro Dias, localizada à 205 km da
capital baiana, onde vive com mais três irmãos e a mãe. "Ela começou a
sentir dores, enjôo e a mãe me ligou pedindo ajuda", disse, informando que
a maternidade de Sátiro está fechada e, por conta disso, a sobrinha está com
ela em Porto de Sauípe - povoado de Entre Rios, que fica a pouco mais de uma
hora de Salvador. "Lá em Sátiro não tinha condições de atendimento. Só tem
o Hospital Geral da cidade e pra marcar consulta leva até um mês. Por isso pedi
que ela viesse pra cá para termos atendimento", contou.A partir daí, começa a batalha de Luzimaria
para ajudar a sobrinha e que tem o apoio da patroa, uma secretária que mora em
Salvador e trouxe o caso ao Bocão News. "Fiz uma denúncia no Disk 100 -
Direitos Humanos, no dia 20 deste mês e dia 23 o Conselho Tutelar de Entre
Rios - que atende à Porto de Sauípe, foi acionado. Fiquei impressionada
com o descaso do setor público com um caso grave como este", afirmou Inês
Santos Silva que, atualmente, busca resolver o problema da criança. "É um
descaso total das secretarias de Saúde. Há uma semana eles [o Conselho e a
secretária de Entre Rios] têm a denúcia e nada fizeram. A Promotoria e
Prefeitura da cidade também já foram comunicados do caso de Rosa, que é grave.
Ela e o bebê podem morrer", contou.De acordo com Inês, uma única
ultrassonagrafia foi feita há cerca de um mês após amigos conseguirem consulta
em Alagoinhas, constatando o tempo de gestação e a gravidade da situação.
"O médico que nos atendeu disse que o caso é delicado. A criança só está
com 600g porque não há pele suficiente para o desenvolvimento do feto. Rosa tem
12 com corpo e rosto de 8 anos", relata. A reportagem do Bocão
News entrou em contato com o Conselho Tutelar de Entre Rios,
que confirmou ter recebido a denúncia no dia 23 e que "já estamos tomando
providências sobre o caso. Ontem a enfermeira já a examinou e disponibilizamos
um carro para levá-la a uma consulta ja marcada para esta quarta-feira (29) em
Alagoinhas", disse a conselheira Maire Kelly Dias. A reportagem não
conseguiu falar com a secretária de Saúde de Entre Rios, Guiomar Oliveira, para
saber quais as condições de atendimento à Saúde no município e qual assitência
será dada à Rosa. O Bocão News também tentou contato com o prefeito da cidade,
mas não obteve êxito. Foi feito o contato também com a secretaria de Saúde do
Estado (Sesab), mas sem sucesso. O objetivo é entender a situação da Saúde em
sátiro Dias e confirmar se, de fato, a materinidade foi fechada.O exame marcado para hoje à tarde foi remnarcado para segunda-feira (3),
"pois Rosa está se sentindo mal. Ela não tem condições de ser deslocada.
Está mal", disse Luzimarina. A tia e Inês buscam agora um acompanhamento
para a gestação, "até mesmo para sabermos se esta gravidez deve ou não ser
interrompida pois é considerada de alto risco", ressaltou Inês.Dados do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE) indicam que o número de adolescentes grávidas também está
crescendo no país. Entre 2011 e 2012, o total de filhos gerados quando as mães
tinham entre 15 e 19 anos quase dobrou: de 4.500 para 8.300. Ainda segundo o
IBGE, nessa faixa de idade 18% das mulheres já engravidaram ao menos uma vez.
Só no Brasil são cerca de 700 mil meninas sendo mães todos os anos e desse
total pelo menos 2% tem entre 10 e 14 anos, sendo que elas não têm nenhuma
preparação psicológica e nem financeira para poder dar um bom futuro a essas
crianças.
A gravidez na adolescência é atualmente um dos mais significantes problemas
sociais em todo o mundo. No Brasil, dados da Organização das Nações Unidas para
a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) mostram que a maioria das mães solteiras
é do interior do Nordeste e tem entre 10 e 14 anos. Esses mesmos dados indicam
que 25% das meninas entre 15 e 17 anos que deixam a escola o fazem por causa da
gravidez, que assim vem se tornando a maior causa de evasão escolar. A gravidez
precoce e suas complicações são a principal causa de mortalidade entre
adolescentes do sexo feminino de 15 a 19 anos.Para a médica obstetra, Rita Oliveira, este caso, "bem como toda gravidez
na adolescência é considerada de alto risco. A mãe é muito nova, o que não
impede que o parto aconteça. Neste caso, será mais difícil um parto normal.
Mas, as condições físicas da menina é que vão indicar os verdadeiros riscos
desta gestação que, sem dúvida, deve ter acompanhamento médico e
psicológico", disse.Com as deficiências da saúde pública, Rosa - que agora faz parte das
estatísticas das crianças que geram crianças, entra na fila em busca de
solução, à sombra do apelo da tia e de Inês, que disse representar um caso
cotidiano mas "que não deveria ser assim. Elas e tantas outras têm
direitos. Estou preocupada com o ser humano e esta menina precisa de
ajuda", pontuou. Fonte: Bocão News
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