
A Fundação Nacional do Índio (Funai) lamentou a
morte de Oziel Gabriel, índio terena, de 35 anos, morto a tiros na quinta-feira
(30), durante a desocupação de uma fazenda em Sidrolândia (MS). Determinada
pela Justiça Federal, a operação foi coordenada pela Polícia Federal (PF) e
contou com o apoio de policiais militares sul-mato-grossenses. Além da morte de
Gabriel, atingido por um projétil no abdômen, ao menos mais três índios e um
policial ficaram feridos durante o confronto e foram atendidos no Hospital
Beneficente Elmíria Silvério Barbosa. Em nota divulgada na noite de
sexta-feira (31), a Funai critica o cumprimento da ordem de desocupação da
Fazenda Buriti, confirmado na noite anterior pelo juiz federal Ronaldo José da
Silva. No último dia 16, um dia após a fazenda do ex-deputado estadual Ricardo
Bacha ser ocupada, a Justiça Federal já havia determinado que os terena
deixassem ou fossem retirados da área. Como os índios resistiram, o mesmo juiz
suspendeu o cumprimento do mandado a fim de que Bacha e os índios tentassem
chegar a um acordo. Uma audiência de conciliação aconteceu na tarde de
quarta-feira (29). Como não houve acordo, o juiz renovou a ordem de
desocupação, cumprida nas primeiras horas da manhã de quinta-feira
(30). Na nota, a Funai informa que havia recorrido ao Tribunal Regional
Federal da 3ª Região (TRF3), tentando reverter a ordem de reintegração de
posse. O órgão classificou como lamentável o cumprimento da decisão antes que
seu recurso tenha sido julgado. "A Funai considera lamentável o fato
de ter sido determinado o cumprimento da ordem de reintegração antes do
julgamento desse recurso, sem que pudesse informar e dialogar previamente com
os indígenas, bem como acompanhar as medidas voltadas à efetivação da
decisão", menciona a nota, confirmando a informação divulgada na
sexta-feira (31), pela Agência Brasil, de que nem a fundação nem o Ministério
Público Federal (MPF) foram informados previamente da operação policial.A própria Superintendência da PF confirmou à reportagem que
só conseguiu entrar em contato com o procurador da República Emerson Kalif
Siqueira nas primeiras horas de quinta-feira (30), quando a operação policial já
estava em curso. Os policiais também não conseguiram avisar a FUNAI
antecipadamente, mas um servidor da fundação chegou a tempo de acompanhar o
início da operação. Segundo Kalif explicou à Agência Brasil, a PF não é
obrigada a informar ao MPF que irá cumprir uma decisão judicial de reintegração
de posse, mas, segundo ele, "a comunicação prévia aos órgãos de assistência aos
índios poderia proporcionar melhor condução da negociação, o que atenderia à
recomendação feita pelo juiz de preservar a integridade dos envolvidos na
desocupação”. Um inquérito policial para apurar se houve abuso por parte
dos policiais foi instaurado no mesmo dia do confronto e o ministro da Justiça,
José Eduardo Cardozo, prometeu rigor na apuração. A FUNAI disse que
acompanha e defende o grupo indígena evolvido no episódio e que desde 1993
realiza estudos para identificação da área reivindicada como território
tradicional indígena, na qual está localizada a Fazenda Buriti e outras
propriedades. A área reivindicada pelos índios foi reconhecida pela FUNAI em
2011, mas o foi anulado pela Justiça Federal em Campo Grande e depende agora de
uma decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região. "A FUNAI
considera que o distensionamento de situações de conflito demanda diálogos -
inclusive sobre a possibilidade de pagamentos referentes aos valores das terras
- sem prejuízo do direito territorial dos povos indígenas, conquista do Estado
democrático e plurietnico de direito", conclui a fundação. Também em
nota, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), que representa
os produtores rurais de todo o país, voltou a cobrar do governo federal a
suspensão das demarcações de terras indígenas. Para a CNA, o "lamentável
confronto" ocorrido durante o feriado de Corpus Christi é a "crônica de
uma tragédia anunciada”. Fonte: Agência Brasil |