Ivete Sangalo dispara pela rua vestindo apenas uma calcinha cheia de
babados, um modelo que ela chama de ‘bunda rica’. Ela e a melhor amiga
olham para um lado e para o outro e, travessamente, pulam o muro do
Country Club para tomar banho na piscina de madrugada. "Continuo essa
mesma menina. Só não posso mais sair na rua só de calcinha, né?”,
diverte-se a cantora, lembrando a infância em Juazeiro.Fomos até o
interior da Bahia atrás dos primeiros passos da antiga ‘campeã’ de
cuspe à distância da cidade e atual popstar internacional, que lança
semana que vem o CD e DVD com registro do show que fez em setembro no
badalado palco do Madison Square Garden, em Nova York. Ivetinha — como
é chamada em Juazeiro — garante que não mudou quase nada desde aquela
época."Bom, é verdade que também não me aventuro mais a pular
daquela ponte!”, conta, referindo-se ao local em que mergulhava no Rio
São Francisco. "Mas continuo enraizada naquela terra. Frequentemente me
perguntam onde aprendi uma coisa ou outra, e foi tudo lá”, atesta.De
fato, a espevitada artista que levanta poeira durante um show inteiro
conserva muito da garotinha que se divertia assustando o povo, pulando
embaixo de um lençol. "Uma das brincadeiras preferidas da minha turma
chamava-se Casa do Terror. Era assim: a gente ia dormir, depois
acordava às três da madrugada e partia para a rua fingindo ser um bando
de fantasmas”, recorda.Dessa turma de amigas, a inseparável era
Leila Lisboa. As duas meninas foram das primeiras moradoras do bairro
Country Club e, em saraus familiares, costumavam se deixar embalar
horas a fio pelo violão do pai de Ivete, Alsus Almeida de Sangalo.
Célebre em Juazeiro, o seresteiro tem até estátua na praça em frente da
casa onde moravam."Fazer
piquenique embaixo de um pé de juazeiro (árvore típica da região),
pular elástico e jogar Banco Imobiliário eram as nossas brincadeiras
prediletas”, conta a companheira Leila. "No Colégio Nossa Senhora
Auxiliadora, onde a gente estudava em Petrolina (cidade vizinha, que
faz parte de Pernambuco), eu era boa em matemática, enquanto Ivetinha
era mais das letras: português e história eram seu forte”, relata. Leila
Lisboa diz que sempre achou que a amiga era ‘diferente’. "Foi ela quem
me ensinou a falar palavrão”, revela, às gargalhadas. "Achava que ela
seria uma modelo muito famosa, mas não cantora”.Ivete, antes da
música, até ensaiou trabalhos como modelo. "Logo que ela definiu que
seria cantora, eu era como sua primeira empresária, pedindo patrocínio
de porta em porta e até solicitei ao prefeito para ela se apresentar na
festa junina da cidade”, conta Leila.Hoje, Ivete Maria Dias de
Sangalo não precisa pedir mais nada. Pelo contrário. Desde este ano, o
Carnaval de Juazeiro até mudou de data só para contar com a disputada
presença da conterrânea: migrou para coincidir com o dia 27 de maio,
data de seu aniversário. |