Os amantes da cerveja já podem brindar, afinal, a
bebida, considerada uma das mais velhas companheiras da humanidade
(indícios históricos apontam que ela era consumida há 6.000 aC), pode
ser uma aliada poderosa quando o assunto é cuidar da qualidade de vida e
da saúde do coração.
Dois estudos publicados recentemente - um em agosto
deste ano, pelo Journal of Molecular and Cellular Cardiology e o outro
durante a I Jornada Cerveja e Vida Ativa, realizada em outubro, em
Madri, na Espanha – chamaram atenção para o fato de que o consumo
moderado da cerveja possui efeitos protetores sobre o coração, ajudando a
reduzir em até 50% o risco de infarto agudo do miocárdio.
As substâncias presentes nos cereais, lúpulo e malte
que compõem a bebida, também ajudariam na fixação do cálcio nos ossos,
na diluição das placas de gordura nas artérias, no combate do diabetes e
evitariam o ganho de peso. Moderação O representante da Sociedade
Brasileira de Cardiologia (SBC) e especialista em medicina do esporte, o
médico Nabil Ghorayeb, lembra que por consumo moderado entende-se 400
ml por dia, o que daria menos que duas latas convencionais. "O grande
problema é que o consumo da cerveja no Brasil, geralmente, é feito sem
moderação, além de, geralmente, vir acompanhado de comidas salgadas e
gordurosas”, destaca o médico.
Ele lembra ainda que são muitos os estudos que
mostram os efeitos benéficos de bebidas como a cerveja e o vinho, que
fazem parte da chamada dieta mediterrânea, mas ressalta que o consumo em
excesso traz muitos riscos, inclusive o do alcoolismo.
"Por isso mesmo é tão complicado recomendar o
consumo do álcool, afinal nem todos conseguem ter o equilíbrio
necessário para usufruir da bebida com responsabilidade”, completa.
Ghorayeb chama a atenção que a bebida sem álcool, que ainda não caiu no
gosto dos brasileiros, também surte efeitos benéficos, sem os riscos do
consumo exagerado. "O sabor dessa cerveja não deixa nada a dever da
alcoólica, mas reconheço que nem todos partilham dessa opinião”,
completa.
Pequenas doses O cardiologista e
coordenador do serviço de Cardiologia do Hospital Espanhol, Fábio
Vilas-Bôas, lembra que para ter benefícios, o consumo não pode ser
concentrado nos finais de semana, por exemplo. "Alguns pacientes chegam a
perguntar se podem trocar a dose diária por várias concentradas no
sábado, por exemplo, e a resposta é não, pois o efeito protetor só vale
em doses pequenas”, diz.
Para ele, não vale recomendar o uso para quem não
consome normalmente, afinal os efeitos reversos do álcool terminariam
comprometendo os benefícios do uso moderado. O cardiologista baiano
ressalta que o abuso das bebidas alcoólicas aumenta o risco do acidente
vascular cerebral (derrame).
"Nas mulheres, em especial, o abuso do álcool
aumenta em até quatro vezes o risco de mortalidade, uma vez que a
intoxicação produz uma substância chamada formaldeído, que é muito
tóxica para os vasos”, completa.
"Alguns pacientes já me confidenciaram que não
suportam vinho, por exemplo, mas que tomam porque faz bem e é importante
que se esclareça que não é bem assim, afinal os antioxidantes presentes
no vinho podem ser encontrados em outras substâncias, como o suco de
uva”, explica.
Vilas-Bôas salienta que o consumo leve e moderado do álcool não garante a saúde do coração sozinho.
"É preciso que esse consumo venha acompanhado de uma
série de ações que promovam o bem-estar em geral, como uma alimentação
saudável e a prática de alguma atividade física constante”, completa.
Para o cardiologista, o uso do álcool fica absolutamente contraindicado
para o caso de pessoas que tenham o histórico de alcoolismo na família
ou que não tenham estabilidade emocional.
Nutritiva Com uma opinião parecida, a
nutricionista Lídia Loyola, da HapVida, ressalta que a cerveja é um bom
alimento, desde que consumido com muita moderação. Afinal, a bebida
preferida pelos povos mesopotâmicos, sumérios e egípicios é rica em
ácido fólico( fundamental para boa formação dos bebês), ferro,
carboidratos, cálcio e em vitaminas do complexo B, que ajudam o
organismo a metabolizar a glicose e transformar o açúcar em energia.
Na sua composição mais básica, as cervejas são
preparadas tomando como receita básica uma mistura de água; amido(que
pode ser o malte de cevada ou qualquer outro cereal capaz de se
transformar em açúcar). Essa mistura é fermentada, transformando-se em
álcool e dióxido de carbono.
A levedura de cerveja produz a fermentação e o
lúpulo, que dá o gosto amargo e garante a conservação da bebida. Vários
tipos de amido podem ser usados na cerveja, como o milho ou arroz. Para
reduzir os custos da cevada maltada, alguns países usam o sorgo e raiz
de mandioca, como é o caso da África, a batata no Brasil, e agave no
México. Os minerais presentes na água também ajudam a garantir à bebida
sabores bem característicos.
"As cervejas nunca fazem parte das recomendações
nutricionais porque são muito calóricas e nem sempre é possível garantir
o uso terapêutico”, completa. No entanto, ela lembra que se bem usada
ou acompanhada de alimentos pouco salgados e magros, pode ser sim uma
aliada da boa saúde e da boa forma.
Fonte: Correio24horas
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