A sensação de segurança durou apenas dois dias.
Depois de terem os rostos estampados na edição da última quinta-feira do
CORREIO, traficantes de três quadrilhas que disputam o poder em Vila de
Abrantes, localidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador,
deixaram o local. Mas, no sábado, um novo confronto surgiu depois que
alguns bandidos resolveram voltar. Mesmo com a presença da policia, a
população continua apavorada.
Apesar de policiais militares negarem que tenha
havido confrontos, os moradores da Fonte da Caixa, área dominada por
Romildo Ribeiro de Souza, o Fio, de 19 anos, contam que houve troca de
tiros na noite de sábado. "Na manhã de quinta-feira (após a publicação
das fotos), a gente sentiu logo a diferença. Eles passaram de moto,
armados, como se estivessem fugindo, e só voltaram na noite de sábado”,
diz uma cabeleireira, que pediu anonimato.
Segundo ela, o bando de Fio estava reunido, próximo a
um bar, quando foi atacado pelo grupo de Gineval do Brito Santos, o
Gil, e Anderson Paixão de Souza, o Rincha, ambos de 20 anos, que brigam
juntos para manter a hegemonia em Nova Abrantes diante dos ataques de
Fio e de Queixo, líder de Estivas de Buris.
"Foi apavorante. Gente correndo de um lado a outro.
Um grupo conversava, armado, quando os rivais já chegaram atirando”,
conta a cabeleireira. Ainda de acordo com ela, o confronto ocorreu por
volta das 22h e, aparentemente, não houve feridos. "Quando o pessoal de
Fio chegou, as pessoas de bem que batiam papo entraram para suas casas.
Já o dono do bar se salvou porque correu para o depósito”, completa.
O ataque teria sido comandando por Rincha, conta um
aposentado, de 67 anos. "Gil não participou porque ainda está escondido
em Itapuã, junto com a mulher e a sogra”. Segundo o idoso, o tiroteio
foi interrompido mais uma vez com a presença de policiais militares, que
foram acionados por moradores apavorados. "Quando viram a viatura,
muitos deles correram para o areal. Mas, logo no início da manhã de
domingo, alguns deles foram vistos por aqui fazendo algazarra”, diz.
"Eles estão dizendo por aí que não têm medo de
polícia e quem manda aqui é o bonde”, relatou um topiqueiro. "Eles estão
esperando um desses policiais dar um vacilo para pegá-lo”, complementou
uma passageira, que preferiu não se identificar.
rotina alterada Um adolescente de 17 anos, aluno do
1º ano no Colégio Estadual Vila de Abrantes, conta que precisou mudar a
rotina para ir à escola. "Antes, vinha só, sem problemas. Agora, a
gente sai de casa em grupos de cinco ou seis, mesmo assim com medo”,
declara. "Na semana passada, houve troca de tiros na frente da escola.
Os pais tiveram que buscar os alunos”.
Outro aluno da mesma escola, também de 17 anos,
conta que mora entre a Fonte da Caixa e Nova Abrantes. Ele relata que
mesmo com a ronda da PM, a cautela tem sido fundamental para os
moradores. "Mesmo com o policiamento, desde o sábado, quando escurece,
não tem mais ninguém na rua. Só mesmo o pessoal que volta do trabalho”.
Gil e Rincha disputam com Fio e Queixo Na
localidade de Nova Abrantes, Gil e Rincha passaram de meros usuários a
donos de ‘bocas’ após a saída de Jack, expulso da área por rivais. No
lado oposto, Fio chegou ao comando do grupo após a prisão de Cássio dos
Santos Oliveira, que está custodiado no Presídio de Lauro de Freitas.
Jovens identificados como Nana, Bodão, Vando e
Alanzinho fazem parte do grupo. Para tentar derrubar Gil e Rincha, Fio
tem contado ultimamente com o apoio de Queixo, líder na Estiva de Buris e
que recebia droga de Manga Rosa, traficante de Portão que desapareceu
da região.
Durante um confronto, no último dia 20, os bandos de
Fio e de Queixo atacaram o grupo de Gil e Rincha, mas, com a chegada da
PM, os policiais passaram a ser o alvo dos traficantes. No embate com
os policiais, Osvaldo Fernando dos Santos, o Neguinho, 17, Paulo César
Fernandes Filho, 19, e um adolescente identificado apenas como Michel
foram mortos.
Mesmo com a baixa, o bando de Queixo retornou horas
depois para Nova Abrantes e trocou tiros com o grupo de Gil e Rincha, o
que terminou vitimando o ajudante de pedreiro Zailton, que morreu a
caminho de um posto médico.
Fonte: Correio24horas
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