A capela do Cemitério
Municipal de Vila de Abrantes, localidade de Camaçari, na Região
Metropolitana de Salvador, ficou pequena para tanto sofrimento na tarde
de ontem, quando foi velado o corpo da estudante Adriane Mello de Jesus,
16 anos.
"É muita dor. Não tenho nem palavras para dizer o que
sinto”, lamentou o pai da adolescente, o policial militar e segurança do
Salvador Shopping, Júlio César de Jesus, 39.
A garota,
encontrada morta na tarde de quarta-feira com três marcas de tiro, foi
raptada na terça após sair da casa de uma amiga com o namorado, um jovem
de 17 anos, e ir namorar numa área deserta na entrada de Abrantes.
Investigação
Ao saber que a filha tinha sido raptada, o PM, lotado na 5ª CIPM, em
Vera Cruz, chegou a ir até Abrantes procurar pela filha. "Nós fizemos
buscas na área, mas não conseguimos achar nada”, contou.
O corpo
de Adriane foi encontrado quarta em um matagal atrás do clube da Caixa
Econômica Federal, na Estrada do Coco. Segundo a polícia, o cadáver
apresentava três perfurações de bala, sendo duas na cabeça e uma no
peito, e indícios de abuso sexual.
"Ela estava de saia e sem
calcinha, então suspeitamos do abuso, mas somente a perícia pode definir
isso”, disse o titular da 26ª Delegacia de Polícia, Marcos Tebaldi.
Mesmo
sabendo que Adriane era filha de um policial militar, Tebaldi não
acredita em crime de vingança. "O pai dela não mora aqui e não trabalha
em Abrantes, nem em Salvador. Trabalhamos com a hipótese de crime
passional”, diz. "Pode ter sido alguém que tinha uma paixão escondida
por ela, ou alguém que tentou algo e ela não quis”, complementou o
delegado.
Segundo depoimento do namorado da garota, um único
homem desceu de um Pálio preto dizendo que era policial. Após revistar o
rapaz, ele obrigou a adolescente a entrar no carro e, ao sair, jogou o
celular dela pela janela.
Pelo fato de o criminoso estar
sozinho, a polícia descarta a hipótese de sequestro. "Em todo meu tempo
na polícia, desconheço qualquer caso de sequestro feito por uma única
pessoa”, disse o delegado, acrescentando que a família informou ter
recebido uma mensagem por celular pedindo resgate, mas que, na sua
avaliação, foi um trote. "Já identificamos a pessoa que enviou o SMS e
iremos interrogá-la”, completou.
Retrato Na manhã de
ontem, o namorado da vítima esteve no Instituto Médico- Legal Nina
Rodrigues para dar informações que ajudaram a fazer o retrato falado do
suspeito. Tebaldi contou ainda que cerca de 20 pessoas que tinham
relação com a vítima já foram ouvidas, inclusive amigas de Adriane que
garantiram que ela tinha uma relação saudável com o namorado.
"Do
total, seis pessoas foram interrogadas formalmente e o namorado de
Adriane já prestou dois depoimentos. Ele ajudou muito com o retrato
falado”, concluiu o delegado. Informações podem ser passadas ao Disque
Denúncia pelo (71) 3235-0000, ou para a 26ª Delegacia, pelo (71)
3623-4963.
Despedida é marcada por saudade e medo Por
causa do estado do corpo, o enterro de Adriane, apelidada de Annie,
teve que ser realizado com o caixão fechado. A mãe da adolescente passou
mal e não conseguiu comparecer à despedida da filha que sonhava em ser
psicóloga. Durante o velório, colegas da adolescente, que cursava o 2º
ano do ensino médio no Colégio Estadual de Vila de Abrantes e tirava
"notas excelentes”, prestaram as últimas homenagens.
"Não dá para
expressar a dor. Nada vai preencher a falta dela. Entrar naquele
colégio sem ela não vai ser a mesma coisa”, disse o estudante Kaio
Santos, 17 anos. Antes do corpo ser sepultado, Kaio leu um texto que
escreveu para a amiga. "Annie, você sempre estará viva em nossos
corações, mentes e lembranças. Espero que sua família encontre o
conforto que precisa e você a paz eterna”, dizia o texto.
O
crime, que chocou a população de Abrantes, deixou ainda o medo para os
jovens do local. "A gente se sente insegura. O que aconteceu com ela
pode acontecer com a gente também. É um clima de insegurança total”,
disse a estudante Carla Henrique, 16. "Ninguém esperava que isso fosse
acontecer porque ela era muito reservada. Não tinha inimigos. A maneira
que ela foi tirada de nós deixa uma dor muito grande”, complementou a
também estudante Tairine Bahia, 16.
Vestidos
em sua maioria de branco, vizinhos, amigos, familiares, professores e
funcionários da escola em que Adriane estudava fizeram uma manifestação
pacífica na manhã de ontem, em frente à 26ª DP. Foi a forma que eles
encontraram de protestar contra o assassinato brutal da garota.
De
mãos dadas, eles formaram um grande círculo, gritaram por justiça e
fizeram uma oração em homenagem a Adriane. Após a prece, pediram que a
polícia solucione o caso com agilidade. A pedagoga Laís Melo, 33 anos,
vizinha da família, falou sobre o sofrimento da mãe e da indignação dos
amigos e familiares.
"Conheço essa menina desde os 8 anos de
idade, uma garota tranquila, nunca se envolveu com nada errado. A mãe
dela está de fazer pena. O que fizeram com ela foi uma brutalidade”,
disse Laís. "Ela estava no lugar errado, na hora errada. Foi um
covardia. Ela foi presa de um animal que já estava com intenção de
cometer essa maldade”, desabafou o amigo Marcos Vinícius.
Fonte: Correio
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