
Talvez confiando na experiência de caixa de lotérica, Raimundo
Almeida do Rosário, 52 anos, apostou alto demais. Não tinha a pretensão de
acertar as dezenas da Quina, Mega, ou os jogos da Loteria Esportiva. Bahia na
cabeça apostou a própria reputação. E, como se vê na foto acima, se deu mal. Foi
antes do time levar de 7 em plena Fonte Nova.
Se o tricolor conquistasse o título do Baianão, ele obrigaria o
colega rubro-negro Antônio Carlos de Jesus, 35, a se vestir de azul, vermelho e
branco o dia inteiro. Acontece que Antônio também é caixa da mesma lotérica. E,
pelo visto, aprendeu a apostar melhor. Se
o Bahia fosse vice, Raimundo deveria trabalhar com roupa de mulher. O
vestidinho preto, emprestado por uma colega, e a peruca, do salão de beleza ao
lado, pareciam feitos sob medida. A cada gracinha disparada por um cliente, o
amigo campeão largava a chacota. "Vice, Bahia! Quem mandou apostar em Sardinha”.
Na lida diária com
as apostas, o rubro-negro não aprendeu apenas a dar troco. Sorriso de orelha a
orelha, calcula bem os títulos do seu time e os vices do rival. "Essa história
de o Vitória ser vice é passado. Basta pegar os últimos anos e você vai ver que
o Bahia tem mais vices”. De certa forma, ele está certo. Pelo menos quando se
trata de confrontos diretos em decisões. Com o título, o Vitória ganhou pela
17ª vez uma final contra o Bahia. Já o rival venceu em 15 oportunidades. Duas a
menos na história.
"Tá vendo aí. Todo castigo para vice é pouco”, atacou, sem dó,
Antônio. Raimundo ainda tentou retrucar. "Não acredito nessa contagem. E, se
for verdade, a gente pode dizer que até nisso o Vitória é vice, né?”, brincou,
sem parar de ouvir as piadinhas.
"Rapaz, já me deram
várias cantadas hoje aqui. Me chamaram para jantar, deixaram bilhetinho com
telefone e tudo”, disse, contrariado. Funcionários há 12 anos de uma lotérica
na rua Silveira Martins, no Cabula, Antônio e Raimundo já apostaram dinheiro e
almoços. Foi a primeira vez que a reputação entrou em jogo.
Se bem que não há vergonha alguma em se vestir de mulher. Após
os humilhantes 5x1 e 7x3, constrangimento mesmo é usar a camisa do Bahia. Tanto
que, nas ruas, foi difícil flagrar um tricolor a caráter. Um dos poucos que
encontramos tinha a chacota no próprio nome. O gerente comercial Vitório da
Silva, 53 anos, não fez aposta para ‘mudar’ de sexo. Está quase é mudando de
nome. "Meu pai botou meu nome errado. Vou dar um jeito de mudar”. Fonte: Correio
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